18.12.09

blog'o de notas

afinal a música experimental existe.
quero muito explorar por aqui:

Memórias

Sem dúvida que uma das memórias de Monchite é sonora. E é ligada a um momento do dia de que gosto muito, a manha. Gosto da luz da manha e gosto da sensacao de ter um dia inteiro pela frente. Quando em Monchite, de manha, se abriam as janelas, e imaginemos que era a janela do quarto onde dormia o avô Joao, entravam nao só a luz mas também os sons dos tractores de caixa aberta que desciam para a baixa. A janela do quarto do avô Joao dá para um vale apertado - onde no inverno corre uma ribeira onde se apanham sapos e, diz a lenda, cágados. O que interessa é que esse vale pega nos sons da baixa, concentra-os e envia-os directamente para a janela do avô. E eu estou lá, mao em concha na orelha, nariz frio, a apanhá-los a todos, antes de me chamarem para ir para a escola em Tomar.

O avô Joao dormia no segundo melhor quarto da casa, a seguir ao dos pais, e abria a janela TODAS as manhas, quer fosse Verao ou Inverno. Quando o avô se deitava, a mae sentava-se na beira da sua cama e ali tinham conversas que me pareciam ser meio em surdina e durar horas. Nos dias em que o avô lá estava, em vez de tomarmos o pequeno almoco a correr, sentavamo-nos à mesa que já tinha sido posta pelo avô antes de descermos. E nas noites de Verao, a seguir ao jantar, eu dava passeios com o avô, de chapéu e bengala, até à capela e, nesses passeios, o avô ensinava-me a apanhar grilos dos seus buracos com uma palha e muita paciência.

Tao bom que é lembrar.

(ao andré, obrigada pela dica)

A sonhar acordada

com o fim do doutoramento.
Masallah.

13.12.09

Oetinger Villa

No mesmo sítio onde há encontros anti-fascista, concertos punk, cristas cor-de-rosa, meias rasgadas com mini-saias de couro ou calcas pretas esterlicadas e botas de biqueira de aco, fans a despirem-se no palco e cadeiras partidas há também festas espanholas. Copos de plástico com sangria acucarada a um euro, touros estampados em t-shirts vermelhas, flores no cabelo de miúdas com vestidos sexy, patilhas e fios de prata ao pescoco, gipsy kings e paquito chocolatero. Ecletismo. Os concertos punk levam uma malta muito local, sao bandas da zona e os fans sao fiéis e ferrenhos. Em geral, a Oetinger Villa tem uma gente politizada e engaged. Tem estatuto de centro cultural, um centro cultural underground, um palácio antigo e decadente com ar de casa assombrada. Entra-se para um hall de pé direito tao alto como a própria casa, que se desenvolve em volta desse hall em escadas e varandas de madeira muito escura. Há uma lareira gigante no hall, e as paredes estao grafittadas ou coladas com posters por cima de posters dos diferentes eventos. Na festa espanhola, uma cena paralela habita a villa. Sao estudantes de erasmus ou malta da agência espacial europeia, espanhois e outros latinos, cosmopolitas, despreocupados, uma festa espanhola aqui como em Roma, Londres ou Barrancos. Os locais que se apresentam sao namorados ou namorados wanna-be de espanhóis de cabelo escuro, camisa aberta e pelo no peito ou de espanholas de flor no cabelo e maos sevilhanas.

Gosto deste ecletismo, gostei do concerto punk e da festa espanhola, mas mais ainda gostei de ir às duas neste sítio. Além disso, para dancar o paquito chocolatero estou sempre pronta.

10.12.09

Namesake

Outra vez um processo de crescimento. Gogol em busca da sua identidade, no meio do passado intrincado entre a cultura indiana bengali e a vida nos estados unidos. Nova Iorque e Calcutá numa só. A primeira viagem à Índia na adolescência, a decisao de estudar arquitectura tomada numa visita ao Taj Mahal. A dor do tempo perdido, a esperanca na descoberta de quem se é, a sensacao de liberdade. Avioes, malas, comboios, viagens, saudades. Sempre saudades. O filme mais bonito dos últimos tempos: tanto a fotografia - as cores, os contrastes, a simplicidade - como a história e as personagens.

La Faute à Fidel

“Les communistes ? c’est des gens rouges et barbus qui ne craignent pas le seigneur et qui déménagent tout le temps“

A politizacao e "esquerdizacao" dos seus pais, vistas através dos olhos de uma menina de 9 anos da classe alta, na Franca pós 68. Ela resiste, revolta-se, questiona, apercebe-se das incoerências, exige explicacoes e respostas, vive de uma forma muito intensa a mudanca de vida, de casa, de hábitos, de valores. O filme mostra de uma maneira muito simples e cómica a evolucao social a partir do Maio de 68.

Mais aqui.

30.11.09

Ora bem, quanto aos minaretes

A relacao entre um imigrante e o país onde vive e trabalha nao é uma relacao anfitriao-convidado; a ideia dos Gastarbeiters mostrou-se um falhanco. Os imigrantes nao têm que ser "tolerados", contribuem isso sim de forma importante para a economia (e também para a cultura!) dos países onde produzem, pagam impostos e enriquecem a paisagem social.

O que se espera de um país resolvido e liberal é que respeite diferentes maneiras de viver e dê aos seus diferentes grupos espacos para viverem as respectivas culturas.

(comentário a este post)

Blogs

Adoro o gozo que tem em usar coisas estranhas, a soberanidade com que fala dos grandes da moda e acima de tudo o seu ar deslavado e maladroit. Abaixo as belezas formatadas!

Descobri este barco à deriva e gosto de pensar que é uma declaracao de amor.

27.11.09

Lazy Luders



Amanha concerto na Oetinger Villa, um sítio já de si um must-see do underground.

Melhor melhor é que a cantora vem cantar connosco de vez em quando.

Vejam o site da banda.

23.11.09

O que é democracia e ditadura - pergunta Inês de Medeiros às entrevistadas.

"Este documentário é uma suave, afectiva, comovente mas exacta resposta. Devia passar em todas as escolas do país. E ser enviado, por correio, para casa de todos os que esqueceram ou insistem em esquecer a diferença."

"se todas tivéssemos que dizer não, era não. Mas também não sabíamos bem a quê."

Reaccoes ao "Cartas a uma Ditadura" em blogs:

um mergulho perturbador no obscurantismo que dominou Portugal por mais de 50 anos

por entre chavões e frases feitas, surgem por vezes o medo, a tristeza, o isolamento em que se vivia em Portugal nos anos 50

quer participassem de uma forma mais ou menos consciente (porque havia as duas condições), parece ser comum é que o fizeram de uma forma de poderem participar activamente, de alguma maneira e/ou na única possível, na esfera política. "Cartas a uma Ditadura" desmonta o regime e as suas estratégias de perpetuação

Cartas a uma Ditadura

Finalmente a Joana emprestou-mo. A versao inglesa, que quero mostrar aos meus amigos.


Ao início reparei que apareciam só mulheres da classe alta. Claro, o resto das mulheres portuguesas nao existiam. Na verdade, o resto do povo nao existia, nao tinha voz, nao fazia parte da sociedade. Estranho é que este facto, que eu sabia dos livros de história, me surpreenda.

As conversas sao deliciosas, mas é sobretudo nos silêncios que se ouve mais. Nas pausas antes de falarem, enquanto estao a pensar no que hao de dizer. E nas reticências, nas frases inacabadas. As entrevistas estao muito bem feitas, nao perguntam mais, respeitam. Fica no ar sempre uma dúvida sobre o que pensam aquelas mulheres realmente. Fica no ar a dúvida sobre se se admitem pensar...

Depois, Belmira. Recebeu a circular porque estando o marido para o Brasil, era ela quam votava. Admite que queria ter sido alguém, e dou por mim a pensar também nas outras. Quem teriam sido estas mulheres, se nao tivessem tido que ocupar um lugar predefinido num ambiente claustrofóbico?

Parabéns ao Tio Tó MG. E Obrigada.

17.11.09

devagarinho

já saem powerchords e escalas.
Dia de banda é sempre um bom dia.

12.11.09

Viva o sonho e os nossos mundos privados

É em sonhos que o cérebro faz as ligacoes mais inovadoras. Sem respeito a lógicas, regras ou sensatez. Livre.

Um sonho lúcido é um sonho em que sabemos que estamos a sonhar. Se soubermos que estamos a sonhar, podemos dirigir o nosso sonho, fazer qualquer coisa que nos apeteca. Diz quem já conseguiu que é a loucura. Chega-se lá desenvolvendo algumas rotinas que nos permitem estar mais alerta.

A primeira é tomar nota dos sonhos. No início, nao nos lembramos de nada, mas com o tempo vamos conseguindo fixar cada vez mais pormenores. Até nos lembramos de vários sonhos na mesma noite e do seu encadeamento.

A segunda rotina é um reality check para situacoes que sejam estranhas, inesperadas ou impossíveis. Se durante o dia desenvolvermos este reality check, levaremos esta rotina para os sonhos e assim se nos acontecer algo estranho num sonho (como estar num lugar e de repente estar noutro, ou estar a falar com alguém que está longe) percebemos que estamos a sonhar e é aí que se dá o click para o sonho lúcido.

Esoterismos e psicanálises à parte, eu comecei a assentar os sonhos e é mesmo verdade que me lembro de cada vez mais pormenores. O que interessa aqui é darmos valor aos sonhos, para termos as tais sinopses inovadoras, para mantermos o cérebro a funcionar. A pergunta é: o que faz o meu cérebro se eu o desligar de regras e pressoes sociais, de angústias existenciais, de lógicas geográficas e do possível/impossível? A resposta é: fica livre! Qual é a ideia dos sonhos lúcidos? Simplesmente pela aventura de os viver, como ir de férias. Ou porque, entre outras coisas, podem ajudar a resolver problemas, quando pensamos neles de maneira mais livre e vemos possibilidades que nao tínhamos visto e ainda por cima temos a hipótese de as experimentar.

11.11.09

Aspirantes a guitarristas, nao se esquecam disto:

Um amplificador com distorcao e qualquer uma é rainha.
Basta umas festinhas em duas cordas, que o amplificador vai à lua e volta.

Ponto da situacao

Ontem estive a ensaiar e deitei-me tarde. Dormi mal porque tive que acordar às 6. Estive 12h no laboratório e estou morta.

Mas há duas coisas que precisam da minha atencao hoje à noite.

Primeiro, chegou-me aos ouvidos que o chefao me elogiou e diabos me levem se nao vou festejar.

Segundo, há um concerto de Goldenen Zitronen. Elas dizem que sao o nosso exemplo de banda. Nao os conheco, vi um filme no youtube e achei-os um bocado nonsense. Mas tudo bem, se é exemplo é exemplo!

Vou a casa dormir uma hora e ala!

7.11.09

verniz cor de rato



As fotografias nao é má qualidade, nao. Sao fotografias artísticas! Nem tentem obter estes efeitos com uma máquina normal. O meu telemóvel dá um toque artístico especial. O génio, esse é todo meu... E nao, nao é mau génio. É génio artístico! Fogo, que tenho que explicar tudo!

Quem muito (e bem!) escreve, merece recompensa. A compra do ano.

a cantarolar

dança marioneta,
rodopia, gira
e recomeça

Suite

A música cola tao bem com o tema! Faz-me pensar em filmes de Tim Burton.

6.11.09

Amazing cells

Tamanhos: do grao de café ao átomo de carbono. Pelo meio, os meus anticorpos.

A comunicacao celular é feita por sinais. É preciso entender esses sinais para poder encontrar respostas terapêuticas quando os sinais correm mal.

A dica foi da Mini.

Sertao

Anteontem saí daqui e vi uma daquelas luas cheias, muito baixas e gigantes, a maior que já tinha visto. Lembrei-me logo das luas das novelas, impossivelmente grandes a torturar o mulherio daquelas vilazinhas de cenário artificial, e dos lobisomens. Nao acredito que aqui haja lobisomens. Para isso, é frio demais. E nao estou só a falar da temperatura ambiente.

29.10.09

Síntese da felicidade

Desejo a você...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não Ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E o carinho meu.

de Carlos Drummond de Andrade, descoberto aqui.

Acrescento:

Cama quente no Inverno
Cheiro de maca no forno
Luz de vela
Copo de vinho
Manha de sábado
Aeroporto
Reencontros
Encontros
Céus ao entardecer
Confidências e comunhao
Admirar um amigo
Deixar-se ir
O primeiro beijo
Banana com queijo
O copo meio cheio
Canja de galinha
Memórias de vida

28.10.09

banda

Elas comecaram há um ano do zero. Agora sao uma baterista, uma baixista e uma nas teclas. Encontram-se uma vez por semana na garagem. Um dia, peguei numa flauta e toquei com elas. Só improvisacao. Adorei. Mas precisavam era de uma guitarrista. Peguei na guitarra e comecei só a imitar o baixo. Só com a corda de cima. Pouco, pobre, mas já gozava. Desenterrei do fundo da memória as aulas de guitarra em Tomar. As Dunas e o Anzol. As notas aqui nao sao Dó - Si, mas C D E F G A H. Preciso de comunicar em duas línguas estrangeiras ao mesmo tempo, o alemao e as notas alemas. Lixado. Com uns 5 ou 6 acordes nao se muda o mundo, mas ninguém está ali para isso. É um gozo enorme. E há alturas em que entramos na onda, todas na mesma. E aí tocamos todas juntas. E aí, xii, aí é um gozo indiscritível.

chocalhar o rabo

as aulas de danca agora sao numa escola de música. Gente para a frente e para trás com instrumentos às costas. Ouvem-se as aulas, atrás de cada porta. Gosto tanto do ambiente.

22.10.09

ITHACA

Sexta-feira passada estava em casa da Laura, ela tinha ido trabalhar. Peguei no livro "Molecules that changed the world" para me fazer companhia ao pequeno-almoco. Gosto de ler ao pequeno almoco. Na última página descobri o poema Ithaca (traducao inglesa do grego). Nao sei quantas vezes já o reli desde sexta feira. Ter sempre presente que a riqueza vem do caminho que fazemos para atingir objectivos, e nao dos objectivos em si , é o que nos salva.

ITHACA

When you start on your journey to Ithaca,
then pray that the road is long,
full of adventure, full of knowledge.
Do not fear the Lestrygonians
and the Cyclopes and the angry Poseidon.
You will never meet such as these on your path,
if your thoughts remain lofty,
if a fineemotion touches your body and your spirit.
You will never meet the Lestrygonians,
the Cyclopes and the fierce Poseidon,
if you do not carry them within your soul,
if your soul does not raise them up before you.

Then pray that the road is long.
That the summer mornings are many,
that you will enter ports seen for the first time
with such pleasure, with such joy!
Stop at Phoenician markets,
and purchase fine merchandise,
mother-of-pearl and corals, amber and ebony,
and pleasurable perfumes as you can;
visit hosts of Egyptian cities,
to learn and learn from those who have knowledge.

Always keep Ithaca fixed in your mind.
To arrive there is your ultimate goal.
But do not hurry the voyage at all.
It is better to let it last for long years;
and even to anchor at the isle when you are old,
rich with all that you have gained all the way,
not expecting that Ithaca will offer you riches.

Ithaca has given you the beautiful voyage.
Without her you would have never taken the road.
But she has nothing more to give you.

And if you find her poor, Ithaca has not defrauded you.
With the great wisdom you have gained, with so much experience,
you must surely have understood what Ithacas mean.

Konstandinos Kavafis, 1911

20.10.09

EN2

Joao Catarino conta e desenha a EN2, vista de uma carrinha pao-de-forma VW. Adoro!
Mais uma dica do Tiago, publicada mais-vale-tarde-que-nunca.

Vejam os vídeos:
Prólogo

Clube de Vídeo

O filme é da seccao "vale a pena ver" do meu clube de vídeo.

O meu clube de vídeo tem seccoes como "filmes especiais" (Gato Preto, Gato Branco), "filmes a 50centimos", "escolhas pessoais dos trabalhadores", "filmes de oscars" e "cinema alemao". Já encontrei no meu clube de vídeo grandes surpresas, uns que escolhi só pela capa e que adorei (Irina Palm), outros que se tornaram nos meus filmes favoritos (Fur) e outros de que andava à procura mas nunca pensei que os apanhasse por nao serem mainstream (Happy-go-lucky).

Gosto de pegar na bicicleta ao princípio do serao, de luvas e gorro e cartao no bolso, e pedalar os 2 minutos até lá. Gosto do chao de alcatifa, dos néons à entrada, da rapariga de rastas que está ao balcao a ver um filme com o cao aos pés. Gosto da banca de filmes à venda, onde nunca encontro nada mas procuro sempre. Gosto de olhar para os clássicos que nunca vi e pensar que os guardo para quando nao houver mais nada - nao há pressa, os clássicos sao clássicos. Encontro sempre alguma coisa. E gosto de andar por ali, sem pressas, até haver um filme que tem mesmo que ser visto.

Um bom clube de vídeo é um factor de qualidade de vida tao importante como andar de bicicleta ou viver a 5 minutos do trabalho.

Indecent Proposal

Grande filmalhao estilo eighties, com a Demi Moore. Romanticao, ao estilo o-amor-vence-tudo.

14.10.09

Basel

é cosmopolita, bonita, civilizada, laid back. E rejeitou os posters do partido de extrema direita. Hoje saí mais cedo da conferência e fui passear de gorro, cachecol e luvas, o sol e o frio na cara. Definitivamente, gosto das estacoes do ano.

7.10.09

coragem de viver

Ouvi-a dizer a uma mesa de café que o seu objectivo de vida a longo prazo era a sabedoria, die Weißheit.

Fiquei a pensar naquilo...

E tenho pensado que o meu objectivo de vida a longo prazo é nao ter medo. Assim, dito com voz de manifesto. Porque o medo é o que nos rouba a vida.

Eu ando introspectiva, eu sei. O Outono poe-me assim. Mas é bom, como diz a Maria. E eu digo que é tempo de verificar o azimute e coser as velas. Que vem aí vento!

Isto já foi mais fácil

mas também já foi mais difícil.

Sao dias de assim-assim, do renhónhó. Que também fazem parte da vida.

Mas sao dias em que nao se veleja, ou porque nao há vento, ou porque se anda a apanhar bonés, ou porque nao se tem unhas.

29.9.09

Barcelona de noite


Barcelona de dia

Em Wasserburg

Que bem fiquei nesta fotografia, tirada pela colega farmacêutica.

Vida de estudante

Entre o corredor e o gabinete da secretária, apertos de mao e que bom vê-lo, o professor deu-me o papel pelo qual esperava há 2 anos para me inscrever. Que para ver os resultados nao tinha tempo, a nao ser que fosse urgente. Eu gostava era de saber se está bom assim e se posso comecar a escrever. Que lhe mandasse a apresentacao por correio e que sim, que posso comecar a escrever, que nao tem preocupacoes comigo.

Aviou-me em cinco minutos. Posso comecar a escrever!

Na volta, comprei o Courrier Internacional e um café-to-go e vim a olhar a intervalos para a paisagem do Reno pela janela do comboio.

22.9.09

La vie, tu ne peux que la vivre.

Questiono-me se será normal gostar tanto do meu trabalho. Dá-me prazer. Posso tornar-me facilmente uma workaholic.

Luto contra isso. (Quase) nao trabalho aos fins-de-semana; vi 3 filmes nos últimos 4 dias; (quase) nunca digo nao a um encontro social; faco desporto uma a duas vezes por semana; ontem fui correr; hoje vou a um concerto de uma africana, a Lura, com a Nona e companhia; a seguir ao concerto passo na garagem onde a banda está a ensaiar; amanha vou dancar com o ventre; depois o Murat e a Laure dao-me boleia para casa e jantamos juntos, o Murat vai emprestar-me a guitarra e sexta, ui, sexta vou para Barcelona! E no fim-de-semana a seguir vem o Pedro!

Isto parece agitado, mas nao é. O segredo é estar sempre onde estou, nem no futuro, nem no passado, nem noutro lugar.

Tenho-me sob controlo. Mas estou na corda bamba. Se nao fosse isto tudo era uma workaholic.

18.9.09

Mas melhor melhor

foi quando expliquei a uma vendedora de uma loja de bijuteria a minha teoria sobre ter sido uma árvore noutra encarnacao e ela levantou os olhos do embrulho que estava a fazer, abriu-os muito para mim e perguntou, muito séria: "E como é que descobriu isso?".

De facto, nao me devia por com estas conversas, principalmente para vendedoras de lojas de bijuteria. E embora agora seja difícil de vos convencer disso, ou talvez isto até só piore as coisas, o assunto naquele momento até vinha a propósito.

16.9.09

Noutra encarnacao,

fui árvore.

Todos os Outonos, ainda me cai cabelo como folhas.

15.9.09

Regresso à escola no Acatar

Trago a fisga no bolso de trás
e na pasta o caderno dos deveres
Mestre-escola, eu sei lá se sou capaz
de escolher o melhor dos dois saberes

Já tenho o boletim de voto

Fui à internet ver o que é esse tal de MEP que vi referido no facebook. Empresas biotecnológicas, jovens empresários, slogan do Martin Luther King...

Parei quando vi a fotografia da Laurinda Alves.

11.9.09

=)

Principalmente nas mulheres, a felicidade transparece na pele.

Nunca achei a Laure tão bonita como agora. Amanhã vamos procurar um vestido de noiva.

7.9.09

Milk

Harvey Milk, o primeiro político activista gay eleito em Sao Francisco, nos anos 70. Interpretado por Sean Penn: brilhante! Além disso, o filme tem o enorme valor documental de mostrar Sao Francisco nos anos 70 e o início do activismo gay como parte de uma revolucao cultural de que todos herdámos. Algumas das personagens sao interpretadas pelos próprios e como extra ainda ouvi entrevistas a pessoas que participaram nos movimentos na altura - mais do que uma emocionou-se ao falar de Harvey Milk - 30 anos depois! -, o que mostra a sua forca como pessoa, como companheiro e como líder.

"If a bullet should enter my brain, let the bullet destroy every closet door." Harvey Milk

Vários

- Glamour na maternidade, ou Rititi no seu melhor

- Karma de surfista, pela mao do Tiago

- Blog Acatar, pela mao do André - nao perder as histórias no Taxi

5.9.09

Outono

Refrescou e os dias já nao duram até às 11 da noite. As árvores vão começar a avermelhar. O jardim está cheio de maçãs no chão. A partir de agora, tantos crumbles quantos puder fazer. Gosto do ciclo das estações do ano.

A pergunta é


mudo ou nao de cor?

2.9.09

Wasserburg am Inn

O programa é visitar empresas, andar de canoa e finalmente conhecer os coleguinhas da Uni.

26.8.09

Darmstadt

A quem vive do outro lado do mundo, expliquei Darmstadt assim:

"uma cidadezinha universitaria alema, com um certo charme, muita vida cultural, onde os verdes ganham as eleicoes, a vida social se faz em casas de uns e de outros onde um amigo novo é sempre bem-vindo e o meio de deslocacao é uma bicicleta em segunda mao comprada na feira da ladra..."

Será que já me ando a despedir?

23.8.09

Feira é revolver trapos

Saio de casa cedo. Gosto da luz oblíqua das manhãs e de ter o dia todo pela frente. Vou de eléctrico até perto do centro e depois ando umas centenas de metros a pé até ao sítio que me indicaram. Como é possível viver aqui há 4 anos e nunca ter ido à feira da ladra que se monta todos os sábados? Procuro uma bicicleta em segunda (ou mais antiga) mao, desde que estampei a minha contra um carro. Nao compro bicicletas novas porque sao sempre más.

A feira tem mais de feira que de ladra. Por momentos transporto-me para a feira do relógio, mas uma feira do relógio mais cool, menos quente, com menos gente e menos cheiro. Pregões! Nao imaginam como é bom ouvir pregões na Alemanha! Bancas com pilhas de trapos a 2 euros, o paraíso! Sinto-me em casa, revolvo as pilhas como só nós as descendentes da minha mãe sabemos fazer e a minha cunhada Paula adora. Discuto com o vendedor que me quer fazer a 3 euros o que estava na pilha de 2. Pensa que eu sou alemã e me calo. E experimentar, posso? Se experimentar é mais um euro, sao 3. diz ele e eu respondo Devia ter perguntado mais cedo, assim levava a 1, sem experimentar. Ele ri-se.

Passeio de mochila às costas pela feira da ladra, refreio-me umas poucas de vezes para nao comprar lixo. Gosto do ambiente. Muitos estrangeiros, bancas de fatos de dança do ventre, de véus e de túnicas para muçulmanas. À saída descubro uma banda de verduras, uma algazarra, tudo a escolher, a pesar, a discutir. Uma matrona italiana com bom aspecto e a sua filha cinquentona discutem discretamente a qualidade da mercadoria e o bom preço. Mães turcas empurram carrinhos de bébés, mas os bébés nao se vêem, estão cobertos de mercadoria: frutas e legumes, tachos em segunda mao dentro de caixas velhas, trapos, um leitor de vídeo também dentro da sua caixa velha, e elas arrastam as túnicas compridas e gritam para os outros miúdos que saltam à sua volta.

21.8.09

Exportacoes portuguesas

A Sonae está a construir um enorme centro comercial a caminho do aeroporto de Frankfurt. Ainda acredito que a moda dos centros comerciais nao vai pegar na Alemanha (há quem diga que já pegou) e que vamos continuar a ter centros de cidade bonitos e com vida.

Imagem tirada de Frankfurter Rundschau.

4.8.09

Impressions of Finland

Far from the world. Green silence. Sauna, swim between water-roses, orange water. Hot body, cold skin, an indescribable sensation. Peace. Go back to the sauna, one more löyly. Sauna conversations that stay in the sauna. The cycle sauna-swim-sauna can last forever.

No tap water. We warm up rainwater in the sauna. The shower implies too much movement for 80°C temperature. It takes away your last anxiety and uneasiness and your last thoughts. Afterwards one just feels in peace with life and the world. We share confidences. We do the first gin tonic of the evening and start preparing dinner: start the grill, prepare the vegetables.

Time does not run - it flows slowly. The endless light hours help that feeling. At 3 in the morning we do a last night walk to the bridge where we can see the unbelievable colours of the dusk in the horizon, reflected on the water. The sky is never completely dark. But we can see stars, even falling ones. And satelites crossing the sky very fast – the only sign that there is a world beyond the forest.

The forest is magical, inhabited by long blond haired translucid fairies. The tree trunks are white and on the ground red fruits grow. We collect them for a pie. I identify references from fairy tales that can only come from this place. I find it curious that I have references I never questioned and now they make sense. Fairies are not portuguese; they have to be nordic.

They all have long blond hair and talk a vocals-full language. They talk with a tough voice, in a low tone, especially women. When we walk back home from the bridge at night, they forget about us and talk finish together. I am next to them and try to become invisible. I don’t want them to stop. I like that music where I cannot give a sense to any sound. It is a lulling mantra. Some things cannot be put into words. From that not understandable mantra I get a hint of finish essence.

Finlândia - Impressoes

Longe do mundo. Silêncio verde. Sauna, nadar no meio de nenúfares, água cor-de-laranja. Corpo quente, pele fria, uma sensacao indescritível. Paz. Voltar para a sauna. Mais um löyly*. Conversas de sauna ficam na sauna. O ciclo sauna-nadar-sauna pode prolongar-se indefininadamente.

Nao há água corrente. Aquece-se na sauna água da chuva. O duche implica movimento a mais dentro da sauna a 80°C. Acaba com as últimas angústias, as últimas inquietudes, os últimos pensamentos. Depois disso, está-se simplesmente em paz com a vida e com o mundo. Partilha-se confidências. Prepara-se o primeiro gin tónico do serao e comeca a pensar-se no jantar: acender a fogueira dos grelhados, preparar os vegetais.

O tempo nao corre, preguica e escorre devagar. A isso ajudam as intermináveis horas de luz. Às 3 da manha faz-se um passeio nocturno antes de ir dormir. Anda-se por entre a floresta até à ponte, de onde se tem uma vista indiscritível das cores do crepúsculo no horizonte, reflectidas na água. O céu nunca chega a ficar escuro. Mas vêem-se estrelas, até cadentes. E satélites, que cruzam o céu a toda a velocidade. Sao o único sinal desse mundo que existe para lá da floresta.

A floresta é mágica, habitada por fadas translúcidas de longos cabelos loiros. Os troncos das árvores sao brancos e no chao crescem frutos vermelhos que colhemos para uma tarte. Identifico referências dos contos de fadas que só podem vir deste sítio. Acho curioso eu ter referências que nunca questionei e que agora fazem sentido. As fadas nao sao portuguesas, têm que ser nórdicas.

Todas têm longos cabelos loiros e falam uma lingua cheia de vogais. Falam numa voz dura, num tom baixo, principalmente as mulheres. Quando voltamos para casa depois do passeio nocturno, esquecem-se de nós e falam finlandês as três. Eu estou ao lado delas e tento tornar-me invisível. Nao quero que parem. Gosto dessa música onde nao consigo dar nenhum significado. É uma ladainha que me embala. Nem tudo pode ser posto em palavras. Dessa ladainha incompreensível apanho um bocadinho da essência da Finlândia.

*Água que se atira nas pedras da sauna.

Transat, Aude Picault

Tu ne peux "rater" ou "réussir" ta vie. Tu ne peux que la vivre...

29.7.09

Finlândia

Madrugada às 3:39. Noite às 23:20.
Crepúsculos infinitos e de todas as cores.
E lagos, pesca, grelhados, sauna, paisagem.
Até segunda!

23.7.09

Bola

A equipa feminina de futebol está mesmo em baixo: só assim se explica que me aceitem para ir treinar com elas. Eu, que nao devo tocar numa bola há 10 anos - mais ou menos desde que os professores de educacao física do liceu deixaram de insistir.

Da minha parte, acho que correr atrás de uma bola é uma boa variacao a correr ao longo dos campos de espargos. De qualquer maneira, suor e endorfinas.

21.7.09

histórias da carochinha

Perguntaram-me que contos populares se contam em Portugal e, no momento, só consegui lembrar-me dos Irmaos Grimm e das Fábulas do La Fontaine. Também me lembrei da história da Inês de Castro, que nao é um conto popular. Quando muito uma lenda.

Fiquei a pensar nisso: de certeza que há contos populares portugueses. Procurei rapidamente na internet e encontrei a História da Carochinha. Claro! A Carochinha, tao bonita e formosinha, e o Joao Ratao, que caiu no caldeirao! Fiquei curiosa de relembrar outros contos em que há muito tempo nao pensava.

É sempre quando me confronto com outra cultura que tomo consciência da minha. E muitas coisas sobre as quais nunca tinha reflectido, ou que achava "normais", tornam-se assim culturais e, portanto, especiais.

16.7.09

Vicky Cristina Barcelona *

As personagens sao quase interessantes. Quase. Sao tao superficiais que chegam a ser irritantes. A história nao convence, está-se até ao fim à espera do resto, que nunca chega. Mas também nao vejo outra maneira de safar o filme. É como se estivéssemos fartos e resolvêssemos acabar com ele, mandando as personagens às suas respectivas vidas, sem grandes explicacoes.

Agora, sinceramente, nao foi uma hora perdida...

* de Woody Allen

Before Night Falls *

História de vida do escritor cubano Reinaldo Arenas, homossexual e subversivo, perseguido pelo regime de Fidel. Baseado na sua autobiografia. O Javier Bardem está excelente (excelente! vezes dois!) e as curtas aparicoes de Johny Depp fizeram-me andar para a frente e para trás com o filme.

* de Julian Schnabel

"É melhor ser alegre que ser triste"

Tenho duas aves exóticas na cozinha, de uma amiga que as deixou e foi de férias.

Toco-lhes música brasileira. Com o violao e a batucada, sentem-se em casa e nao sabem porquê.

Está-lhes no sangue.

E dançam.

13.7.09

Yanz

Ele: Tens tempo no domingo? Vamos ao cinema drive in ver o Ice Age?
Eu: A sério? Como nos filmes? Nem sabia que havia um drive in aqui.


Nao posso imaginar nada mais cheesy do que ir a um drive in. Ainda por cima ver o Ice Age...
Como pode uma pessoa pensar tudo errado? Ou entao é a pessoa que é errada.

3.7.09

NY

O Lorenzo é galego e está a viver em Nova Iorque. Sempre nos entendemos a falar cada um a sua língua. O galego é como um espanhol muito mais doce ou um português esquisito.

por suposto que podes polas fotos donde queiras,
(...) e moitas gracias polo teu blog, botareille unha ollada...




Mais fotos aqui.

Comparacoes inúteis

Imaginemos a vida como a entrada de uma barra:
apenas sabemos onde nao devemos ir, zonas com rochas escondidas ou de baixios. O caminho que fazemos dentro do corredor do possível depende do vento e das ondas. E nao vale a pena forcar uma rota.

1.7.09

Ich liebe dich auch

Dona Branca veio de nave espacial e aterrou no planeta Couscous. Andou de olhos abertos, perguntou, cheirou, provou, quis saber, opinou. Desfiámos vidas, a comecar pelas nossas, questionámo-nos e filosofámos sem nunca chegar a conclusoes, que nao é essa a finalidade. Banhámo-nos em águas mornas, dancámos salsa e apaixonámo-nos as duas pela inglesa de vestido amarelo e sapatinho branco que veio tocar ao festival.

Se ainda nao viram a reportagem, facam favor.

20.6.09

Obras em Arheilgen

Vivo na rua principal de um bairro fora do centro, a norte de Darmstadt. Um bairro antigo e envelhecido, embora nos últimos anos muita gente nova tenha vindo viver para uns prédios novos que construíram na periferia. A minha senhoria, por exemplo, vive nesta casa onde estou desde que nasceu e antes dela viveram os pais e os avós.

Hoje voltei a ter eléctrico à porta, depois de dois anos de obras e pó para aumentarem a linha do eléctrico e já agora termos passeios novos e mais largos, árvores, carris silenciosos e, esperemos, menos transito. Quando fui ao pao, vi o cortejo de inauguracao: eléctricos antigos seguidos de um dos novos, todo brilhante. Dos antigos, um até era a vapor. E nós de Arheilgen saímos à rua, uns de propósito, outros a caminho do pao, e vimos o cortejo passar. Tiraram fotografias, juntaram-se à conversa, na padaria queixaram-se do muito que lhes custou.

E têm razoes de queixa: parte da obra é paga pelos moradores da rua onde o eléctrico passa! A continha será apresentada no fim de concluídos os trabalhos, consoante a área de terreno de cada morador. Pelo que ouvi, à volta de 10.000 euros. E quem nao tem dinheiro para pagar? Ah, nao há problema, faz um crédito, hipoteca a casa, ou vende. E nao há cá mais conversas. Eu nao consigo perceber isto, e muito menos quando os moradores das ruas à volta, que aproveitam a ligacao de eléctrico tanto como os da rua principal, sem o inconveniente do barulho, esses nao pagam nada. Entao uma obra destas, que serve indiscutivelmente toda a comunidade, nao deveria ser paga por todos?

Se

eu hoje estivesse em Lisboa, ía para a Fnac ouvir CDs a manha toda.

9.6.09

C A L M A

vem de "com alma".
Stephan Doitschinoff, paulista, representa a mistura que é o Brasil. Folclore e cultura urbana, símbolos cristaos e pagaos.
Foi a Teresinha que mo ofereceu, nao haveria melhor presente. Vejam o filme e mais aqui.



TEMPORAL : The Art of Stephan Doitschinoff (aka Calma) from Jonathan LeVine Gallery on Vimeo.

7.6.09

Couscous faz servico cívico - impressoes

Ocupei a mesa de voto 460 de Arheilgen. Além das europeias, em Darmstadt também se votou para um referendo sobre a construccao ou nao de um túnel através do centro da cidade que supostamente tiraria o tráfego das zonas de habitacao. Talvez por isso, tivémos 50% de votantes na minha mesa. O mais giro foi estar ali, ver os meus vizinhos desfilar, e gozar as reaccoes.

A minha colega da esquerda avisou-me logo: as pessoas em Arheilgen sao muito conservadoras, aqui ganha o CDU (partido conservador católico! - nao confundir com "nossa" CDU). Fiquei avisada. E nao se enganou, mas na contagem geral de Darmstadt foram os Grünen (verdes) que ficaram à frente. O melhor foi quando ela comecou a discutir sobre a razao de (nao) ser do túnel referendado com um senhor que tinha acabado de votar. Ainda olhou para mim a meio da conversa, à procura de aprovacao, e eu assobiei baixinho.

Mas os highlights do dia devo-os à colega da direita. Comadre fofoqueira, explicou-me que vinha para a mesa porque para estar sentada em casa preferia estar ali. Tinha a posicao de poder: de lista na mao, fazia as cruzinhas e dizia às pessoas Jetzt dürfen Sie, e gozava aquele poder com prazer que nao escondia. E quando as pessoas desapareciam ía a correr inspeccionar os cartoes e tecia os seus comentários: Nao sabia que este era doutor, Olha esta veio sem o marido, Onde estao os pais deste que ainda nao vieram,... Também percebi que nao gostava de estrangeiros. Cada vez que aparecia alguém de ar pouco "ariano", mexia-se muito na cadeira e quando eles desapareciam tratava-os por Ausländer. A certa altura, depois de uma senhora de véu ter votado disse Há muita gente desconhecida a vir votar. Ao que eu respondi Olhe, para mim, sao todos desconhecidos!

Depois havia os papistas em último grau: ralhavam de cada vez que um casal de idade comecava a discutir o voto por detrás da cabine (ternurento, na minha opiniao) ou que uma mae ou pai levava uma filha ou filho com eles para os verem votar (bonito, na minha opiniao, lembro-me de ir com a minha mae e de sentir que era uma coisa importante).

5.6.09

Trippy hop

Vou correr, para o campo. Sem música. Oiço a erva seca. E os apanhadores de espargos, que nao sao alemaes. Suo e produzo endorfinas: duas coisas boas.

Volto e ponho a tocar um CD que um amigo me gravou. Tem escrito no CD, em letra de mau aluno, "trippy hop". Nao sei o que é. Transporta-me para lounges à beira-mar e copos de martini com uma azeitona.

Bebo água e vejo, pela janela, o senhorio. Corta a relva de cuecas e t-shirt.

Na vida, os pequenos prazeres devem ser reaprendidos tantas vezes quantas for preciso.

3.6.09

Atitude

"I'm often asked in interviews what I look for when I'm out shooting.
I reply that I just try to keep my mind open so I can see what I'm not expecting."

The Sartorialist

29.5.09

perceber vs. fazer

Ele - Nós, matemáticos, percebemos o mundo, mas no fundo nao sabemos fazer nada.
Eu - Nós, engenheiros, fazemos coisas sem as perceber muito bem, mas fazêmo-las.

Cerejas

A minha colega trouxe-me uma tigelinha de cerejas. As primeiras do ano.

Eu vendo-me barato.

28.5.09

A nuvem passou

só nao me está a apetecer escrever.

É engracado constatarmos a nossa própria pluralidade. Aquela do estado de espírito grave, do existencialismo, sou eu. A hedonista que vai hoje beber uns copos ao Schloßgrabenfest, sou eu.

26.5.09

Existencialismo

Até os meus alicerces perderam firmeza: esta foi a extensao dos estragos. Acreditei tao forte, estive tao pronta para tudo, disposta a dar tanto e tanto. A minha razao de viver passava por tê-lo ao meu lado. Loucura?

O existencialismo é doloroso. Nao se tem descanso, questionando sempre se isto e aquilo faz algum sentido, procurando incessantemente uma alguma coisa a que se agarrar, que dê algum sentido à vida. Eu tinha-a encontrado. Para mim era a luta de maos dadas, olhando em frente, era a partilha. Agarrar-me a ele era como agarrar-me ao vento, mas eu gostava disso mesmo. Ao pé dele sentia-me pronta para tudo, forte para tudo, alegre e excitada com essa luta.

Agora, assim de repente, tudo parece apenas dias que correm. E será a vida só isto, afinal?

Mas sei: continuo a luta de maos dadas, só há uma mao que já nao está lá. E sei: vou continuar a partilhar e a deixar entrar (e sair) pessoas da minha vida.

20.5.09

Eu atirava-a agora mesmo pela janela do segundo andar. E depois fechava a janela, para nao me incomodarem os gritos.

claramente inspirado pelos relatos de Max Aub, em Crimes Exemplares, com que me mimou a Teresinha.

"os filhos das colegas de trabalho sao invariavelmente sobredotados"

é verdade. E comprova-se aqui com a minha colega.

Mas onde é que eu li isto?

18.5.09

Há aquele momento da noite em que nada faz sentido

e há aquele momento do dia em que tudo volta a fazer. É redentor.

De nada me arrependo, a vida é isto mesmo.

14.5.09

naaaaaaaa

cinzento nao.
E preto nao gosto, pode ser muito ecológico, como dizem esses site-meters da ecologia, mas eu nao gosto. E aqui mando eu.

Aviso

Ainda nao estou satisfeita, este nao é o "layout" final.

11.5.09

Murro no estômago

o título roubei-o à Lira.

7.5.09

E este fim-de-semana

vou pintar outra vez.
E acho que vou pintar cá com uma gana.

Cientistas de costas viradas

Hoje fui mostrar o que valia aos cientistas. Um senhor, de meias e sandálias, virava o disco e tocava o mesmo: que análises de medicamentos em tubo de vidro nao têm significado porque nunca podem mimetizar o que se passa na realidade na cultura de células ou no corpo. E que é por isso que os cientistas de tubos de vidro e os de cultura celular andam sempre de costas viradas.

Ora, se assim fosse, ninguém fazia caracterizacao de medicamentos, e o objectivo nao é mimetizar o que se passa na célula, para isso existe a célula mesma. O objectivo é dividir um sistema muito complexo em vários sistemas mais simples, limitados é certo, mas compreensíveis. A informacao que daí se tira deve ser interpretada cautelosamente e nunca se tem certezas, mas pode ter-se um conjunto de resultados que apontam numa determinada direccao e que suportam uma determinada teoria.

Eu mantive-me firme - bendito Inderal! E até acho isto um treino valioso!

Eu nem ligo a estas coisas

e até sou contra os site-meters, que implicam com a minha liberdade. Mas, há uns tempos, ao abrir o blog reparei no seguinte "Tem dois followers". Fiquei logo toda contente. E curiosa. Quem sao, entao, estes followers (isto parece followers de uma doutrina ou assim, ou do cientista do Battlestar Galactica).

Uma, a minha amiga Branca - sem surpresas, é sabido que somos followers uma da outra. A outra, uma desconhecida que me deve ter achado graca - se nao me engano era uma amante de Arte Nova que veio cá parar numa altura em que fiz um post sobre a piscina Jugendstil de Darmstadt. Pois deve ter-se desiludido com a falta de posts de Arte Nova. Porque hoje reparei que já só tenho uma follower. E pronto, assim foi a amante de Arte Nova à sua vidinha... Adeus, e até sempre!

25.4.09

Neste lindo dia da liberdade

fui ajudar a pintar a casa nova de bons amigos.

Ele ouve trash punk e ela toca piano clássico, ele gosta de decoração minimalista e ela de bric-a-braque, ele é turco, ela parisiense. Respeitam-se, completam-se, cuidam muito um do outro, sabem que a vida não é sempre fácil e aceitam o sucesso com a dignidade de quem o merece e a humildade de quem sabe que nada é eterno.

De rádio ligado e lenço na cabeça, ele de rolo grande, nós as duas nos detalhes. Pelo meio, pausas com chá turco e camembert barrado em baguete. Não me poderia ocorrer melhor coisa para fazer neste dia.

19.4.09

De ruibarbo

é o crumble de hoje. Há que tempos queria experimental. E a Laure e o Murat sao boas cobaias.

17.4.09

Saber vender

Chegou a altura de provar o que valho. A pesca até foi boa, mas agora tenho que vender o peixe. Hoje ao almoco contei isso ao Joe, um americano que, aos 50 anos, atravessou o Atlântico para vir trabalhar aqui. Ele olhou para mim incrédulo com a minha inocência:

"Oh yeah, no matter how good is your idea, you still have to know how to sell it. That's how it is!"

8.4.09

"Tudo é belo quando se ama"

tá bem tá.

Vou ao Ratskeller beber uma cidra antes que chova.

2.4.09

e sobre bébés e estilos de vida

dois posts interessantes no ervilha cor-de-rosa. Pelo menos para mim, que também me questiono sobre a "necessidade de usar muitos (senão quase todos) os acessórios que as grávidas e recém-mamãs do mundo ocidental pensam serem essenciais à felicidade dos bebés."

G20

É quando estamos mal, que mudamos. Por isso, optimismo.

É de ler o que diz o Durao no Público, em vésperas do G20:

"A saída para esta crise não reside na "desglobalização". O proteccionismo e o nacionalismo económico são falsos amigos que mais não fazem do que agravar a pobreza e os conflitos."
e
"As novas regras globais devem basear-se em valores e princípios éticos, respeitando e estimulando a liberdade, a responsabilidade e a solidariedade. Devem, além disso, permitir que os mercados recompensem o trabalho árduo e o espírito de iniciativa e não a mera especulação."

31.3.09

Nunca queiram

procurar umas chaves num saco onde têm um lenço de moedinhas a-dar-a-dar.

23.3.09

Loucos de Darmstadt

Granizo às nove da noite. Ponho a bicicleta no eléctrico para voltar para casa. A esta hora, vai quase vazio, mas não sou a única a puxar uma bicicleta para dentro.

Na paragem a seguir, entra um senhor a ralhar. Não vem a falar com ninguém em particular e também não se esforça por nos chamar a atenção, a minha e das outras 3 ou 4 pessoas que também vêm no eléctico. Está zangado e fala para o ar. Ralha à junge Leute, a juventude, que estão "cada vez mais malucos", "malucos, como nós nunca fomos". Diz que lhe furaram o pneu da bicicleta e já é a terceira vez em três semanas. Que são todos uns egoístas, que têm carros, que só se importam com o seu próprio conforto. Confessa-nos que já bebeu umas quatro ou cinco cervejas, "mas continuo bastante lúcido, sei bem o que se está a passar" avisa-nos. E continua com críticas à junge Leute e à sociedade.

Está a uns 4 metros de mim, mas cheiro-lhe o hálito a álcool. Vou de pé, encostada a um banco, a segurar a bicicleta. Olho para a chuva na janela, mas oiço com atenção o que ele diz. Todas as cidades precisam de um louco que diga as verdades.

22.3.09

"Os últimos dias de Sophie Scholl"

Sophie Scholl, membro do Rosa Branca, grupo de resistência ao regime nazi durante a Segunda Guerra Mundial. Os membros do Rosa Branca redigíam, copiavam e distribuíam panfletos com mensagens de resistência antinazi e, segundo os próprios, de convicção cristã.

Excelente filme.

20.3.09

Travessia do deserto

Nao acredito em aprendizagem sem esforco. O processo de aprendizagem é doloroso. Mas compensa.

Estou em esforco, sim, mas vejo uma luz ao fundo do túnel. Descrevo-vos a visao: é um fim de tarde com um copo de vinho numa varanda sobre o Lago Maggiore, enquanto dentro se cozinha o nosso jantar.

Assim vou vencendo esta minha travessia do deserto.

5.3.09

Mulheres de Atenas

ando pelo laboratório a cantarolar isto. Tenho uma versao cantada pelo próprio Chico, presente do Bartolomeu, mas resolvi postar o Ney Matogrosso.

2.3.09

Resistir ao Inverno

O Inverno já tresanda. Ontem avistei o sol, que já nao o via há uma semana... mas logo se escondeu meio tímido entre umas nuvens esbranquicadas. Hoje ainda pior, tudo outra vez cinzento escuro, bem escurinho, trabalhar em frente à janela de luz acesa.

Isto nao me deprime, nao, isto poe-me é zangada! Nao há mais direito de o Inverno continuar. Já gastei as minhas bombas de boa disposicao, guardadas desde o Verao passado, que eu sou como a formiga do La Fontaine.

Isto requer medidas drásticas.

E portanto, hoje comeco as aulas de danca do ventre. Eu e mais três amigas, com os nossos lencos coloridos pelas ancas, de moedinhas a-dar-a-dar, abanamos os rabos nessa danca da feminilidade e da fertilidade.

Havemos de espantar o inverno. Raios!

1.3.09

Des Terres & des Hommes

Uma série de documentários sobre uma comunidade nos Himalaias, realizada por Marianne Chaud, que passa ao domingo à noite na TV5Monde. Adoro a maneira como ela filma, quase nunca a vemos, mas sabemos que ela está por trás da câmera. Mantém a distância necessária para contar a estória, mas nota-se como ao longo da série, vai construindo relações com as pessoas que a recebem. Filma a maior parte das vezes interagindo muito pouco com a cena mas há momentos em que, mesmo sem falar, sabemos o que está a sentir. Adoro quando as pessoas já estão à vontade com ela para lhe devolver as perguntas que ela faz.

Vale imenso a pena ver!

Aqui estão videos que encontrei, vejam o 4º.

18.2.09

Amanha também é dia

Quando depois de uma noite mal dormida (a sonhar com a experiência que estava a correr, que nerd...), chego cá e as coisas nao funcionaram,

o melhor é fechar o computador, pegar na trouxa e ir para a rua. Feierabend*!

Vou ao supermercado comprar o que preciso para o soufflé que quero fazer logo à noite a uma amiga recente que convidei para jantar. Depois, deito-me no sofá a ler e pode ser que durma uma sesta. E mais para o fim da tarde, abro o vinho e comeco com o soufflé.

(* fim do trabalho, fechou o estaminé, leisure time)

17.2.09

Niki de St. Phalle em Évora!

Disse-me a Teresinha que a Fundação Eugénio de Almeida organizou uma exposição em Évora. A não perder! Chama-se Alegria de Viver e imagino que contenha obras da fase tardia de criacao de St. Phalle.

É a sua fase mais conhecida, como símbolo as Nanas (mulher ou rapariga em francês) que são representações femininas de dimensões gigantes e formas redondas. Transmitem alegria de viver e, mais que isso, alegria de ser mulher. São fecundas, coquetes, livres, poderosas, felizes.

Niki de St. Phalle torna-se ainda mais interessante quando se conhece um pouco mais a sua biografia e trabalhos mais iniciais. Uma relação muito problemática com os homens, talvez por ter sido violada pelo pai (ou padrasto, já nao sei ao certo), um coração partido, um ódio aos homens em geral que ela destila em obras violentas, perturbantes, intensas.


Nas obras desta fase St.Phalle dispara com uma espingarda sobre os quadros. Mais tarde, ela diz sobre esta época
"En 1961 j'ai tiré sur : Papa, tous les hommes, les petits, les grands, les importants, les gros, les hommes, mon frère, la société, l'Eglise, le couvent, l'école, ma famille, ma mère, tous les hommes, Papa, moi-même, les hommes. Je tirais parce que cela me faisait plaisir et que cela me procurait une sensation extraordinaire. Je tirais parce que j'étais fascinée de voir le tableau saigner et mourir. Je tirais pour vivre ce moment magique. C'était un moment de vérité scorpionique. Pureté blanche. Victime. Prêt ! A vos marques ! Feu ! Rouge, jaune, bleu, la peinture pleure, la peinture est morte. J'ai tué la peinture. Elle est ressuscitée. Guerre sans victimes."

Na época mais leve e alegre das Nanas é como se St. Phalle tivesse deixado sair todo o ódio, trabalhado as suas inquietudes e os seus traumas. Mas as Nanas não são só leves e alegres, são também uma manifestação não menos apaixonada do feminino e, se quisermos, do feminismo...

Imagens daqui e daqui.

16.2.09

Lombardia: primeiras impressoes

Quando na sexta feira me sentei à espera do embarque, já nao estava na Alemanha, já estava com um pézinho em Itália: à minha volta, bons sapatos, bom aspecto e bom gosto. Subimos até estarmos por cima das nuvens, sobrevoámos os picos dos Alpes cheios de neve e, do outro lado, o sol ainda brilhava. Uma luz muito branca, o sol reflectido na neve e nos lagos... Lindo!

Embora a paisagem natural seja semelhante (os Alpes, os lagos), a Lombardia é ainda mais bonita que a zona do lago de Genebra. Eu acho que a diferenca está no flair italiano... as antigas vilas lombardas à beira do lago, o caos "organizado" italiano, a comida ohhh tudo é tao simples e delicioso...

No domingo de manha resolvemos ir ao Sacro Monte ao lado de Varese, um sítio que se vê de Varese e que tem uma forca de atraccao enorme... Um monte com uma aldeia encavalitada no topo... misterioso. Valeu a pena! É um local de peregrinacao que se sobe a pé, património Unesco, no topo tem uma aldeia medieval onde vive gente e uma igreja. A vista é de cortar a respiracao... Como nao tínhamos máquina fotográfica, aqui está uma foto que tirei da net:

13.2.09

Pirosices

Como este fim de semana vou visitar o Francois a Itália, hoje pus o meu vestido novo e as minhas botas novas.

Ahhh, que bom que é ser pirosa :)

Mas nao me falem em dias do Santo Valentino que isso até para mim é pirosice a mais!

11.2.09

Ainda sobre o filme Liebesleben

A história é uma história universal, mas para a realizadora é importante ter sido filmado em Israel.

Isto pelo facto de os israelitas nao viverem como se tivessem tempo infinito para tudo na vida.

8.2.09

Liebesleben

é um dramalhão, que se vai desvendando à medida que Ya'hara se enreda em jogos eróticos com um velho amigo dos pais. Passa-se em Israel, a realizadora é alemã.

"O amor nao cega, abre os olhos"

7.2.09

Quando a arte aproxima

O primeiro iraniano que conheci foi o Daniel, aquele meu colega de trabalho que deixou os colegas invejosos para trás e foi à vida dele, estudar medicina. Grande Daniel. Mas o Daniel não gostava de falar do Irão e nunca se alargava muito, principalmente se estivessem outras pessoas. Talvez tenha passado uns maus bocados por vir de onde vem.

Uma vez perguntei-lhe pela Satrapi. Não conhecia. Como os livros cá de casa são em Francês, não insisti muito em emprestar-lhos. Também não sei se seria sensível impingir-lhos. Há diferenças culturais ou mesmo biográficas que se devem respeitar. Por muito que eu ache que Satrapi seja muito giro e muito cool e tal, talvez o Daniel até a ache uma parva burguesa cujos papás ricos mandaram estudar para a Europa e que agora está rica às custas de contar como é a vida lá no país dos pobrezinhos. Não insisti mais com este assunto.

Ontem, em casa de um amigo conheci a Ara, também iraniana. Perguntei-lhe então também a ela pela Satrapi. Um bocado a medo, de uma maneira neutra... E os olhos dela brilharam! Que giro eu também conhecer, e como tinha ouvido falar, que a descobriu depois de vir, que no Irão é impossível encontrar, que anda à procura de mais livros, se eu sei de outros, e como se identificou com a história, que a tocou tanto que até chorou a ler, principalmente a parte da guerra... - e aí os olhos pararam de brilhar: a guerra, muito difícil. Parámos de falar por um momento, eu achei que o melhor seria esperar por ela. E depois continuou, que sim que a Satrapi tinha ganho bom dinheiro à custa das histórias do Irão, e agora ainda mais com o filme, mas que é apenas a história vista por ela, sem pretensões, e que está muito bem feito, que é mesmo assim, que também leu o embroideries, que adorou, etc etc

Duas pessoas, eu e ela, vimos de dois extremos geográficos, encontramo-nos no meio, e cria-se uma empatia por causa de uma banda desenhada. Acho que ficámos ambas maravilhadas uma com a outra. Ou talvez tenha sido só eu.

5.2.09

Happy-go-lucky

Viva o clube de vídeo de Arheilgen! Já tinha quase perdido a esperanca, mas valeu a pena ir perguntando.

Poppy (Sally Hawkins) é uma professora primária londrina, 30 anos. Leve e jovial, leva a vida com humor e vê sempre o lado bom, o copo meio cheio. A personagem vai-se tornando cada vez mais interessante à medida que nos vamos embrenhando na vida de Poppy e principalmente através da maneira como se relaciona com os outros. Os pontos altos sao as aulas de conducao com um instrutor perturbado, racista e associal, que se irrita mas ao mesmo tempo fica perturbado com a maneira de ser de Poppy, deslumbrado com a sua liberdade.
Prémio de melhor actriz do festival de cinema de Berlim.

Sinais

Quando de manha a caminho do trabalho tenho a impressao que um bando enorme de pássaros excitados acabou de chegar ao meu bairro

e

tenho que deixar a bicicleta longíssimo da entrada,

sei que a Primavera já nao está longe...

29.1.09

Antes tarde que nunca, gostei de ler este artigo de opiniao sobre a Faixa de Gaza.

Rititi de volta ao trabalho

Porque uma mulher pode mudar de ideias. E muda.

Eu, que embirro com esta cultura alema de mulher-mae-e-esposa, que sou por mulheres independentes e livres de escolher o que querem, arrisco-me a um dia também vir a mudar de ideias e a chorar no primeiro dia de creche...

27.1.09

Ipsilon online

A minha qualidade de vida de emigrante - da qual aliàs nao se me ouvem queixas - vai melhorar.

Obrigado ao Morte, por se lembrar de como estas coisas sao essenciais ;-) se bem que jornais desactualizados versao papel lidos e relidos e trocados entre emigrantes com anotaçoes... esses sao insubstituiveis.

No man's land

Durante a guerra da Bosnia, um sérvio e um bosnio apanhados entre as linhas inimigas, na no man's land. Uma reflexao sobre o absurdo da guerra, a actuaçao das Naçoes Unidas, mostrada de forma satirica, e como um incidente se torna rapida e imprevisivelmente num show mediatico internacional. Oscar para melhor filme estrangeiro.

Isto na mesma semana em que conheci o kosovar.

26.1.09

contactos humanos

O senhor do bar era do Kosovo e merecemos apertos de maos e sorrisos por virmos de países que reconheceram a independencia do Kosovo.

16.1.09

Português do programa Contacto desaparecido em Berlim

Desaparecido!
Foi visto pela última vez em Berlim (ponto A do mapa) às 04h00 de dia 10/01/2009. Dirigia-se para casa (ponto B do mapa)
Se tem alguma informação, por favor contacte-nos!

Vermisst!

Haben Sie diese Person gesehen?
Er wurde letztes Mal in Berlin gesehen (Punkt A auf der Karte) und er war unterwegs nach Hause (Punkt B auf der Karte) um 4:00 Uhr 10/01/2009
Kontaktieren Sie uns, bitte!

http://findafonsotiago.blogspot.com/
findafonsotiago@gmail.com

Deutsche Polizei:
Tel: (030) 4664 912402 und 4664 912410
Fax: (030) 4664 912499
E-Mail: vermisstenstelle@polizei.berlin.de

13.1.09

Epigenética - Aplicacoes

Cancro e Alzheimer.
Claro, doencas com forte componente genética.

Isto fala comigo!

Epigenética how it works

changes that do not affect the DNA sequence are called epigenetic – they change the way DNA is wrapped up in the nucleus. DNA wraps around proteins called histones, like cotton around a spool, to make a package called chromatin. The characteristic features that change chromatin packaging are mostly chemical changes, either to the DNA itself, by the methylation of individual DNA bases; or to the histone packaging proteins they are wound around, by modifications such as acetylation, or methylation. These modifications can make regions of chromatin more tightly packaged, in which case the genes on the DNA in that region are silenced, or more open, which switches genes on. Tsai’s team showed that environmental enrichment increases acetylation of the histone spools, which makes the chromatin package more open, activating a large number of genes.

Epigenética 2

“DNA is just a tape carrying information, and a tape is no good without a player. Epigenetics is about the tape player.”

Bryan Turner (Birmingham, UK)

Epigenética

Ontem na televisao um programa sobre epigenética. O Francois já conhecia, liga-se com a toxicologia. Mais uma vez, bem empregue o tempo e dinheiro nas aulas de alemao.

Entao é assim, nós nascemos com um património genético que nos fixa os "limites" dentro dos quais nos podemos desenvolver. As variacoes dentro de indivíduos com o mesmo património genético (por exemplo, gémeos verdadeiros) sao influenciadas pelo ambiente. Isto porque os genes que possuímos sao ligados ou desligados, dependendo de certos sinais celulares. Que estes sinais celulares sao influenciados pelo ambiente, pelo que comemos, pelo estilo de vida, nao é novidade.

A novidade na epigenética é como essa influência do ambiente se transmite para as geracoes seguintes! Um dos exemplos é a mosca da fruta, normalmente com olhos brancos, que, quando exposta ao calor, muda a cor dos olhos para vermelho. Ora o melhor é que filhos de mosca da fruta expostas ao calor também têm os olhos vermelhos! Outro exemplo sao as criancas nascidas no Inverno de 1944/45 em Amsterdao, o Inverno na Fome, quando os alemaes cortaram as vias de abastecimento para a Holanda. Aqui, nao só as criancas que viveram este Inverno da Fome como também os seus descendentes ainda sofrem os efeitos da fome (baixa estatura, colesterol, etc). (Um aparte: Audrey Hepburn viveu em Amsterdam no Inverno da Fome e a anemia, infeccoes respiratórias e até a depressao de que sofreu foram relacionadas com a malnutricao enquanto crianca em Amsterdao.)

A novidade da epigenética, para mim uma novidade, é importante! Nao encaixa na teoria de Darwin, em que a evolucao é mero fruto do acaso e da seleccao natural, mas completa-a. À luz da epigenética, o ambiente afecta a evolucao! Este é um website óptimo sobre o tema epigenética: estudo das mudancas hereditárias no genoma que ocorrem sem alteracao do DNA. Miguel Constância, português, biólogo da Universidade do Porto, cientista no Reino Unido, é investigador em epigenética e aparecia no programa.

3sat é o melhor canal de televisao de sempre.

7.1.09

6.1.09

Casablanca


Ontem a escolha era entre Rocky II na televisao e Casablanca em DVD.

Ele - Xi, uma história de amor cheesy, nao...
Eu - Francois, anda lá, é um clássico.
Ele - O Rocky também é um clássico!

Somos tao (estereo)típicos: eu gosto de histórias de amor e ele de superheróis e lutas.

Adolescente aspirante a músico

- Vou-te tocar uma música que compus.
...
- O que achaste?
- Gostei. Nao te consigo fazer uma crítica mais rica, nao percebo de música e nem tenho grande cultura musical.
- Ah, nao interessa, diz-me só o que sentiste.

O sonho dele é a música. Para os pais, música nao é profissao. Entretanto ele vai sonhando.

A adolescência pode ser bonita.
Leva-me 10 minutos a pé até à outra ponta da fábrica. As bicicletas foram proibidas por causa da neve e do gelo. Caminho na noite. As ruas sao compridas, desertas e geladas. Levam nomes de cidades. Por cima de mim passam condutas velhas e escuras. Ouvem-se motores, ventiladores.

Sinto-me numa cidade industrial soviética.

5.1.09

Ano Novo

Como a Penelope Jolicoeur, também nao gosto de resoluçoes de Ano Novo.

puer é cheirar mal, fion é rabo.