18.12.07

Insólito

No pó da janela virada a sul por entra sol para as escadas do edifício onde trabalho alguém desenhou isto.
Para quem nao sabe, trabalho numa séria empresa farmacêutica internacional.
Delicioso :)

16.12.07

E digo-vos

porque acho que isto se está a tornar sério: a minha senhoria está a aspirar, embora o casaco e o cachecol continuem pendurados a entrada. Só pode ser amor.

O dono

do sobretudo azul escuro de boa lã e do cachecol forrado a seda que estao pendurados há uma semana na entrada deve ser o novo namorado da minha senhoria.

13.12.07

Le fabuleux destin d'Amelie Poulain

Estive a rever...
Ainda estou a flutuar.

O que para aí vai...

Agradeco à vizinha Branca a publicacao da crónica do António Barreto, no Público de 25 de Novembro de 2007, que nao me tinha chegado aqui.

Nao embarco nas discussoes hippies anti-globalizacao. (Nem poderia, eu que a vivo.) Acho que (1) a globalizacao um facto assumido, virar-lhe as costas é como enfiar a cabeca na areia. E (2) como em muitas outras coisas, acredito que seja possível aproveitar o lado positivo aceitando algum lado negativo que daí venha (a isto se chama fazer compromissos). Tudo bem que, geralmente falando, a mudanca deve trazer um balanco positivo. Mas querer que a mudanca nao implique compromisso é naïf. E rejeitar a mudanca a todo o custo é, mais uma vez, enfiar a cabeca na areia.

E sou pró-Europa. O problema, que nao me apetece discutir, é a incompetência dos habitantes daquele nosso Olimpo Europeu, que leva à sua total descredibilizacao. Nao acredito que, na Europa, a globalizacao, neste caso de motor (também) político, leve necessariamente à uniformizacao. Para isso, o motor capitalista é mais efectivo que o motor político. O que sinto, isso sim, é que este motor político leva, na sua face positiva, ao encontro dos povos da Europa. E que, quando nos encontramos, chegamos à conclusao que temos semelhancas e diferencas. E que, como seria de esperar, dada a história que partilhamos, temos mais semelhancas do que diferencas. As diferencas resumem-se às línguas e algum folclore. Mais importante que isso, os sonhos, as maneiras de ver o mundo e os valores de pessoas da minha geracao de vários países europeus coincidem. Acredito, isso sim, que a globalizacao reaviva singularidades culturais, bons nacionalismos e que trás com ela uma curiosidade muito saudável do europeu pela sua própria cultura e pelas culturas vizinhas.

Ao almoco, dois portugueses, um francês, um turco e um georgiano discutíamos isto mesmo. Em Franca nao há cá cantigas. Venha quem vier, que o foie-gras e outras iguarias de obtencao ou confeccao mais ou menos discutível nao hao-de faltar na mesa. E o francês dizia-nos que para isso o estado francês paga à UE uma taxa (perdoem-me a ignorância, mas como se chamará essa taxa? Será Taxa de Prevaricacao). Ora que curioso… As leis fazem-nas eles e os alemaes, mas nem uns nem outros as aplicam. Nao… isso é para o tótó do portugues que diz sim senhor a tudo (maldita ditadura de já lá vao 30 anos!) porque, entre outras coisas, nao tem dinheiro para pagar a tal taxa.

Porque as novas medidas de higiene e seguranca alimentar da ASAE sao inaceitáveis para qualquer país, assinemos todos a peticao online. É o mínimo que podemos fazer!

Palavras

desmazelo. Que desmazelo de casa! ou Estás a tornar-te uma desmazelada, mulher... ou És um desmazelado.

chiqueiro. Que chiqueiro vem a ser este!?

bordel. Equivalente francês a chiqueiro. Daí lá em casa a versao What is this bordel?

6.12.07

Advento em Arheilgen

Por baixo, a senhoria festeja o dia de São Nicolau (hoje) com as amigas (enfermeiredo). Chamou-me para tirar uma fotografia do grupo. Sete mulheres todas vestidas mais ou menos sexy de Pai ou Mãe Natal a comer, a beber, e a rir, a ir muito! Decoração a condizer. A minha senhoria tem um estilo corações cor-de-rosa sem ser kitsch que é muito engraçado. Apesar de não gostar especialmente do estilo, que acho um bocado enjoativo, nunca me choca e nunca deixo de achar graça à coerência e ao aspecto descaradamente hiper-cuidado. Com ela, decoração e toilette nunca menos do que o óptimo e, como ela diz, "nunca se está arranjado demais".

5.12.07

Dyospiros kaki

nunca gostei de diospiros. E diospiros ou se gosta ou nao se gosta, nao há meios termos. Mas aqui os diospiros sao diferentes. Primeiro, chamam-se kaki. E depois, a consistência é dura e o sabor mais doce. Quando descobri este fruto, num pequeno almoco de Natal aqui no departamento, nao percebi logo o parentesco. Mas agora descobri aqui que :
  • os diospiros sao originários da China (gostava de saber se se cultivam noutros países da Europa ou se é só em Portugal...)
  • há centenas (ou milhares) de tipos de diospiros que se dividem em dois grandes grupos: taninosos e nao-taninosos
  • diospiros taninosos sao os que conheco de Portugal: cor vermelha, sabor adstringente (devido aos taninos) e polpa muito mole
  • diospiros nao-taninosos sao os que se vendem aqui no supermercado, com o nome de kaki: cor amarela, muito doces e muito menos adstringentes e polpa firme

Just for you, Zeynep

I wanted to tell you about my friend Zeynep. I could just write Z., but the name is beautiful and it deserves to take part in the story. Zeynep is Turkish; she arrived in Darmstadt a couple of months after me. We met in a Praktikantentreff on the top of the Hundertwasser building. Back then, I had to ask her to write her name down, so that I could get it. Since that summer day 2 years ago we are friends and, here in Darmstadt, Zeynep is the first friend I had. This gives her the special status of old friends that, it seems, were always there. She already saw my future in a cup of Turkish coffee and when I show up at the end of the day at her place, I hardly go out without having a cup of tea, or bringing some cake or chocolate home. Turkish hospitality. Mediterranean culture.

At the end of the internship she did at Merck, Zeynep did not want to go back home in Turkey. We did not talk a lot about why she took this decision; I guess she imagined herself suffocating in Turkey. Having finished her chemistry degree with the internship at Merck, Zeynep lost also the student status and her residence permit. From what I learned until now about visas:



  • Being a student, you can get a residence permit, which gives you the right to study and do curricular internships. Voluntary internships are not allowed and neither is working

  • To work, you need a work permit. As non-EU citizen, this is the first question you are asked from the employer when you apply for a job. Question: how can you get a work permit??? Answer: you just have to show the German immigration services a work contract. Yes, the same one you cannot get without a work permit!

  • There is only one way (as far as I know) to break this cycle: finding an employer that loves you so much he is ready to hire you without a work permit. As you can imagine, these people are very rare. Why would you hire someone without a work permit when you have still 10 people queuing to have the job?

Zeynep soon understood it would be very hard to find the prince charming employer. Being Turkish and hardly speaking German (at the time) would not be of great help. She picked the first choice: student visa. For almost a year, Zeynep did a German intensive course in the Goethe Institute in Frankfurt. After that, she decided to take an MBA (she always found marketing or management more interesting than chemistry. But, one again, it would not be easy: for the academic MBA, her chemistry degree was not enough to fulfil the pre-requisites; for the executive one she is too young and does not have the required 3 years of professional experience. Besides, to engage an executive MBA, you need to have a job. Anyway, none of this hinder her! She gets a well-paid job as student worker at Merck, with which she gets the work permit. This job is enough to engage the MBA and somehow she also overcomes the problem of the 3 years professional experience. She started the MBA this year, which means having classes in the evening after work and on Saturdays. She finds also time to give private lessons of English, Maths and Chemistry. At work, she was offered a new contract for the end of the MBA.


Zeynep could not be happier when she feels that bit-by-bit she finds her place where she chose to live but where things were never easy. I admire Zeynep a lot; she never gave up in face of a closed door and, many times, opened new ways where there was not even a door.


Zeynep doesn't speak portuguese yet.

Zeynep

Queria contar-vos da minha amiga Zeynep. Poderia ficar-me por Z., mas acho que o nome e bonito e merece entrar na estória. A Zeynep é turca e chegou a Darmstadt só uns meses depois de mim. Conhecemo-nos num Praktikantentreff no topo do prédio do Hundertwasser em Darmstadt, onde lhe tive que pedir para escrever o seu nome num papel para que eu percebesse. Desde esse dia no Verao de há 2 anos que somos amigas e aqui em Darmstadt a Zeynep é a minha amiga mais antiga, o que lhe dá aquele estatuto especial dos amigos antigos que parece que existiram sempre. A Zeynep já me leu o futuro no café turco. Quando apareco em casa dela ao fim do dia sem avisar, nunca consigo sair sem antes pelo menos beber chá. A maior parte das vezes também nao me escapo às fatias de bolo ou chocolates que ela insiste que eu leve para casa. Hospitalidade turca, cultura mediterrânica.

No fim do estagio que fez na Merck, a Zeynep nao quis voltar para a Turquia. Nunca falámos muito sobre os porquês desta decisao, mas desconfio que ela se imaginasse a sufocar na Turquia. Mas, tendo concluído o curso de química com o estágio curricular que fez na Merck, perdeu o estatuto de estudante que lhe dava o visto de residência na Alemanha e a possibilidade de ser estagiária. O que percebi até agora da embrulhada dos vistos:

  • sendo estudante obtem-se visto de residência, que permite estudar e fazer estágios curriculares, mas nao trabalhar ou fazer estágios voluntários

  • para trabalhar é preciso visto de trabalho. Isso é logo a primeira pergunta que um candidate (nao-EU) ouve. Ora, como é que se pode obter visto de trabalho??? Fácil: basta mostrar ao equivalente alemao do SEF um contrato de trabalho! Sim, aquele mesmo contrato de trabalho que nao se obtém sem visto de trabalho!

  • a única maneira de quebrar este ciclo é encontrar um empregador que esteja disposto a contratar alguém ainda sem visto de trabalho. Fácil de imaginar, estas pessoas nao existem aos pontapés. Porquê contratar alguém sem visto quando há 10 outros com visto a concorrer ao mesmo lugar?

A Zeynep, turca e com um alemao mal arranhado de 6 meses na Alemanha, cedo percebeu que as hipóteses de encontrar esse empregador dos seus sonhos eram muito reduzidas. Entao, escolheu a primeira hipótese: visto de estudante. Fez quase durante 1 ano de curso intensivo de alemao no Goethe Institut em Frankfurt. Depois deste ano, já a falar alemao, decidiu fazer um MBA (sempre lhe interessou mais marketing ou gestao que química). Aqui, outro pau de dois bicos: para o MBA académico, uma licenciatura em química nao preenche os pré-requisitos; para o executive MBA, a Zeynep é nova demais e falta-lhe experiência professional. Além disto, um pré-requisito do executive MBA é que a pessoa trabalhe (outro bico: três). Mas a Zeynep nao se deixa atrapalhar. Consegue um lugar de trabalhadora-estudante na Merck (muito bem pagos), com o qual resolve o problema do visto de trabalho. Este emprego é suficiente para o MBA que comecou este ano lectivo e que lhe deixa muito pouco tempo: aulas a noite e ao sábado de manha. Além disto ainda dá explicacoes de ingles, matemática e química. No trabalho já lhe prometeram novo contrato para quando acabar o MBA.

A Zeynep nao podia andar mais contente, quando sente que pouco a pouco vai encontrando o seu lugar no sítio que ela escolheu para viver mas onde nunca lhe facilitaram a vida. Admiro muito a Zeynep, que nunca cruzou os bracos em frente a uma porta fechada e que muitas vezes, as portas que precisou, abriu-as ela mesma!