12.2.14

A vida dos pobres

A ama do Nuno, turca, viúva, com quatro filhos para acabar de criar entre os 12 e os 22 anos, uma família muito equilibrada, todos muito bem educados.

Foi posta na rua da casa onde vive e trabalha como ama por causa de querelas com os vizinhos. O senhorio, uma sociedade supostamente social preferiu pô-la na rua e assim acalmar os vizinhos (nao sei quantos) queixosos.

Em Darmstadt é uma missao impossível alugar uma casa, quanto mais a um preco pagável. As contas sao assim: ela ganha com 3 miudos 1800 euros brutos, dos quais limpos lhe ficam provavelmente nao mais que 1000. Só a renda de uma casa com quatro quartos custa quase sempre mais que isso.

Há-de ter que ir outra vez para a fila da sociedade supostamente social que lhe faz de senhorio ver se arranja uma casa por 600 euros. E se a mandarem para cascos de rolha, embora os filhos andem todos aqui na escola no bairro, azar. A vida dos pobres sem voz na Alemanha rica é mesmo assim.


Estou zangada! Como é que esta gente pode viver com a consciencia de a ter posto na rua? Uma mae com 4 filhos?! E nao me canso de repetir ao Chris e aos meus amigos alemaes: nao se iludam, que isto é uma sociedade racista! Os alemaes sao racistas para os estrangeiros mas ainda mais racistas sao os estrangeiros entre eles. Nao há respeitinho. Nao há confiancas.

E estou zangada por a ama nao ter dito nada (deve ter tido vergonha...). Porque nós, os pais, talvez tivéssemos podido fazer alguma coisa. Com os nossos (os deles) olhos azuis, com os nossos (os deles) cabelos louros, com os nossos titulos académicos, com os nossos fatos de trabalho e talvez até com contactos... Porque isto é assim que se decide... vem uma mae turca sem voz, quem é que lhe liga, mas - eh lá! - atrás dela vem outra gente cuja voz, essa, nos pode dar problemas... Deixa lá avaliar o caso bem avaliado.

Que nojo, que nojo, que nojo.

7.2.14

Lembro-me do choque cultural que foi voltar ao trabalho depois de 7 meses em casa e de achar que eram todos um bocado malucos ou gostavam de levar a sério coisas que no fundo nao interessariam a ninguém. Para se sentirem importantes. Como um jogo. A brincar aos empregos.

É que está-se em casa e tudo é lógico e simples. É assim, come-se porque se tem fome, toma-se banho quando se está sujo, vai-se à rua para apanhar ar ou porque está sol e isso é imperdível, arruma-se quando se torna insuportável, planeia-se uma visita, uma viagem, uma festa, um encontro.

Apesar disso, foi óptimo voltar ao trabalho depois da licença. E acho que temos imensa sorte e que conseguimos ter muito tempo juntos, a dois e a três. E isso é luxo.

6.2.14

Triciclo

"Minho! Heiß!"
"Ontem falámos com a Carminho, nao foi? E a Carminho tem uma lareira, pois. Estava quente, a lareira."
"Ja."

"Mamel!" - A apontar para a cadeirinha que comprámos para a bicicleta.
"Essa cadeira é para o Manel, sim, e também para o Nuno. É para os dois. Para andar na bicicleta grande."
"Queta"
"Quer ir à rua com o pai nessa cadeirinha?"
"Jaaaaa! Jaaaaaa!"

Fala comigo a fazer voz de quem me está a explicar coisas, que é a mesma voz com a qual eu lhe falo.