21.12.10
Liebling
19.11.10
14.11.10
Le Moribond
"cada um tem depois da morte aquilo em que acredita."
Justo.
E Jacques Brel
O Professor
"Kaffee und Kuchen" ao domingo a tarde sao sagrados na Alemanha. A mesa ja esta posta, prato de sobremesa, garfo de bolo, chavenas de cafe a que nos chamariamos de cha. A Os bolos sao comprados a fatia numa padaria, sao bolos sem ovos, uma primeira camada fina de bolo seco da estrutura a uma segunda camada leve de frutas e gelatina ou de natas, ou de queijo. As fatias vem em cima de folhas individuais de plastico, para nao colarem. O cafe numa cafeteira termica de plastico branco. Ha pacotinhos individuais de natas e acucar num acucareiro que da com as chavenas. A casa nao tem muito gosto, mas estamos sentados numa mesa em frente a uma parede de vidro que da para o jardim, o que e muito acolhedor. O ceu esta cinzento mas nao faz frio. "Tudo o que se ve daqui e nosso" - calo a voz da minha Avo, a quem pertencia tambem tudo o que nao se via.
Nao me surpreende a simpatia e simplicidade do Professor, das poucas vezes que o vi nestes ultimos 3 anos nunca me deu outra ideia. Recuperou as cores e a saude, diz que a partir de agora vai mais devagar... E apaixonado por caça e hoje e dia de ir aos javalis. Agradece muito a garrafa de vinho que lhe levo, Ervideira Reserva, pede que lhe leia que castas tem. Todas as noites bebe um copo de vinho, conta-nos que por causa disso nao deu pela hemorragia interna que se foi agravando ate ao dia do meu exame em que foi internado ja quase sem pinga de sangue. Pede a mulher que ponha uma garrafa de espumante no frigorifico e explica-nos que em noites de caçada se juntam a seguir em casa dele para beber ao porco morto e comer-lhe o figado.
A senhora desculpa-se, tem um compromisso com um grupo feminino de caracter social. Nao se vai embora sem antes me deixar uns panfletos e me convidar a visitar o grupo em Darmstadt se tiver interesse. Confesso que fico curiosa, deve ser um genero de rotarios. A despedida o Professor deseja-nos tudo de bom para o futuro, agradecemos muito, desejamos-lhe o mesmo, principalmente boa saude, metemo-nos outra vez no carro ao pe do redondel e guiamos as duas horas de volta. Vimos a ouvir Deutsche Funk, a melhor radio alema para quem gosta de radios com conversa. Eu adoro. Que delicia... De volta a casa num domingo ao fim da tarde com chuva a ouvir radio e a digerir o encontro.
13.11.10
8.11.10
A nossa casa já é a nossa casa quando
E quando passámos um fim-de-semana a pôr filmes em dia. E a ouvir os barulhos da madeira a ranger. E o aquecedor que se desliga com um estrondo. E quando a Nana de St Phalle já está na parede.
12.10.10
Para o meu mano em África:
Caixotes em torre
7.9.10
o sítio mais bonito do mundo
10.7.10
7.7.10
três Marias
Em viagem com um fotógrafo de rua
Primeiro vieram os povos eslavos, do norte (onde agora é a Ucrania) atravessaram o Danúbio e desceram pelos Balcans. Na Albânia, os Ilírios mantiveram a sua língua e a sua cultura. A Albânia é o país étnicamente mais homogéneo dos Balcans e a língua albanesa - descendente da língua ilíria - um single-case na Europa. Mais tarde os Romanos e a separacao do Império Romano divide os Balcans, ortodoxos e católicos. Com o Império Romano enfraquecido, sobem os Turcos para 500 anos de soberania otomana nos Balcans. Mesquitas, burek, ayran. O resultado só pode ser uma regiao fervilhante. Sangue quente, tensoes, invejas, rivalidades, ofensas, sentimentos contraditórios e muitos estereótipos.
Todos nos avisaram para nao ir à Albânia. Um país fechado muitos anos por um regime comunista sem ligacoes à Russia, nem a Tito e mais tarde nem à China, um plano militar autónomo que levou aos planos de construcao de um bunker por cada 4 albaneses, hoje em dia há bunkers por todo o lado. Ninguém entra nem sai, o país é agrícola, sem estradas, sem comunicacao, sem lixo - 100% reciclagem. O regime nao dispunha carros para pessoas que nao fossem membros do partido. Isto resulta numa sociedade fechada que conservou cultura e modos de vida, os que se safaram à revolucao cultural do regime comunista. Um país em mudanca muito rápida, grandes fans dos croissants industriais embalados 7-days: um croissant custa 3 vezes menos que um snack tradicional e imagino que seja muito mais fixe... a embalagem atira-se pela janela.
Banquinhos de Fátima na Albânia
Na Albânia ninguém precisa de ir em pé no autocarro. Quando já nao há lugares nos bancos regulares, aparecem banquinhos no corredor.
8.6.10
Curtas de Plovdiv
Acabou a pausa para sesta, vamos dar umas voltas de autocarro. Em cada autocarro ha sempre - heranca comunista -, alem do condutor, um vendedor de bilhetes.
4.6.10
sinto-me
Turista sofre.
2.6.10
29.5.10
28.5.10
27.5.10
Psico-somático
20.5.10
Ponto da situacao
O que me tem salvo é um livro de Andreas Altmann que fez o caminho de Paris a Berlim em 33 dias, a pé e sem dinheiro. Muito inspirado, mas lúcido e honesto, a viagem na primeira pessoa; o dia-a-dia de quem decidiu descer do comboio e viver da generosidade dos outros; uma reflexao sobre as pessoas, os burgueses escondidos, cujas almas se lhes escorregaram para os porta-moedas e os pés-descalcos Habenichts apátridas e as suas ilusoes perdidas. Aqui dois excertos (traducao minha, desculpem lá):
"Depois de duas horas, chego a Saint-Germain-sur-Morin. Em frente do semáforo estao cinquenta homens e mulheres solitários sentados nos seus carros à espera de poder avancar. Direccao local de trabalho. Que temem ou odeiam. As suas caras nao sao óbvias, só é óbvia a sua infelicidade. Todos os cinquenta sentem certamente pena de mim. Eu sinto pena deles também, estamos quites."
"Depois de saber que vou em viagem sozinho, Madame Chantal quer saber - Entao e nao tem medo? - Medo de quê? - Que alguém o ataque na rua.
Típico, já tinha ouvido esta frase. Ninguém diz: Que sorte! Vai ouvir tantas histórias! Vai conhecer gente interessante! Vai viver experiências! Vai enriquecer a sua vida! Nao, sempre o Medo, sempre o outro como inimigo, como vagabundo, como alguém que causa desgraca. Medo, a atitude de vida oficial."
Habenichts - traducao à letra: um nao-tem-nada.
5.5.10
a biblioteca
As páginas que me falta corrigir contam-se pelos dedos de uma mao.
23.4.10
O que nos move?
Uma vez tive uma conversa com um amigo sobre isto. Foi na altura em que rebentou a crise financeira e aqui falava-se muito da má situacao da indústria automóvel. Questionavamos o nosso modelo económico baseado no consumo. O meu amigo trabalha no desenvolvimento de tintas para automóveis e achava que o que fazia nao tinha sentido, comparado com a namorada que é educadora de criancas com necessidades especiais. Mas bem vistas as coisas, e deixando de lado reflexoes sobre o desenvolvimento sustentável e o consumismo, facto é que neste sistema podem existir educadoras para criancas com necessidades especiais porque existem carros a serem vendidos e quantos mais carros se venderem melhor. Mas tu ao menos podes ajudar pessoas que estao doentes e isso também é bonito, dizia ele. Nao gosto muito deste tipo de conversa; nao me revejo neste tipo de motivacao.
Tive uma conversa semelhante sobre a ajuda ao desenvolvimento. A ciência também é um mundo de vaidosos, e os mais vaidosos acham sempre que podem salvar o mundo e que salvam vidas e que salvam tudo. Sao uns deuses. No fundo, há muito poucas descobertas fracturantes. A maior parte das pessoas que fazem ciência vivem de pequenas vitórias. Nem sempre as coisas mais mediáticas sao as mais importantes. Tudo muito parecido com a ajuda ao desenvolvimento. E em ciência o conhecimento estabelecido deve ser posto em causa, e isso deveria ensinar os cientistas a praticar, pelo menos de vez em quando, a modéstia, a auto-crítica e a contextualizacao desapaixonada do que fazem.
Apesar das reservas e da auto-crítica, um cientista continuará a fazer ciência enquando acreditar naquilo que faz, assim como alguém que trabalha em projectos sociais de ajuda ao desenvolvimento o fará.
21.4.10
18.4.10
Domingo de manha, nas escadas
A senhoria pôs-lhe as malas à porta.
(traducao sem um décimo da poesia: com 55 anos ainda se está uma e outra vez à frente de ruínas destas.)
16.4.10
A nuvem de cinzas, o aeroporto de Frankfurt e o pôr do Sol
Pôres do sol sao quase sempre muito bonitos aqui. Hoje há efeitos especiais, com as partículas da núvem de cinzas. Só me lembro do Sócrates da Costa, que dizia em Monchite, a olhar para os fogos no horizonte, qualquer coisa como "Esquecamos a tragédia e apreciemos o espectáculo".
O Sócrates da Costa era um amigo do meu pai que eu sempre achei que era filósofo de profissao, mas talvez fosse apenas um sobrevivente do Técnico.
15.4.10
Gosto
Tudo no Acatar
14.4.10
Curtas e Longas
Estive a estudar as regras dos doutoramentos, para ver tudo o que preciso. Descobri que para ser doutora tenho de ter o cadastro limpo, o que nao deixa de ser interessante. O plano é entregar tudo tudo tudo em Maio para o processo comecar a andar enquanto eu me passeio pelos Balcäs. Quando entregar oficialmente, primeiro é verificada a minha "doutorabilidade" - que bonito. Depois, o doutoramento é entregue aos dois primeiros nomes do Juri (um deles o meu professor), que têm dois meses para escrever uma apreciacao e dar uma nota. Estas apreciacoes sao entao enviadas aos restantes membros do juri, que têm 2 semanas para dar o seu voto (nota). A marcacao do exame é feita o mais tardar 3 meses depois do último membro do júri se manifestar.
Ando com muito mais vontade de pegar num grande livro do que de corrigir o doutoramento. Em que livro hei-de pegar? Sendo que nao tenho nada na biblioteca que já está dividida entre várias casas uma vez que me encontro teoricamente (só teoricamente, nao se preocupem) a morar numa roulotte. Estou a pensar comecar nos russos, Anna Karenina, Guerra e Paz ou Lolita. Alguém me poderia mandar um destes pequenos livrinhos por ele. Ou outro. Sugestoes? Prometo que corrijo o doutoramento à mesma.
Esta excitacao é vida! Só estou um bocadinho ansiosa porque ainda nao comecei a treinar com os sapatos novos...
13.4.10
Banda HochMaus
Ainda estou a flutuar.
9.4.10
Momento pipocamaisdoce
23.3.10
Alma de poeta
"Este não é o caminho. Estamos a caminhar para um futuro incerto e triste. Isto não é ser Português! Onde está a nossa perseverança e resistência? O nosso brilhantismo e lucidez? Uma mudança de atitude urge"
Se isto mesmo nao reflecte o "ser português" desde que o Dom Sebastiao se perdeu na bruma, como já o Pessoa tinha contado, nao sei nao...
Portugal está é cheio de poetas!
"É a hora!"
16.3.10
A luz de Lisboa
no Acatar
10.3.10
8.3.10
7.3.10
Banho
Desisti de ver filmes. E até tinha comprado um leitor de DVDs novo, a 3 meses de me ir embora, porque nao posso viver sem filmes.
Ele acha muito interessante o efeito de faltar o terco de cima da imagem. Artístico, quase.
Uwe Lausen
Das alltägliche Leben ist die einzige Möglichkeit für die zukünftige Kunst. Wir müssen nach radikalen Freunden suchen - solche gibt es ja. Die Alten sagen: 'In unserer Jugend waren wir radikal' Das stimmt. In ihrer Jugend lebten sie noch. Man hat dann vergessen, was man wollte. Man schläft. Man ist tot. Wir müssen diejenigen aufrufen, die wach sind, die Schläfrigen aus dem Schlaf rütteln und die Toten begraben. Das heisst: wir müssen anfangen.
"A vida de todos os dias é a única possibilidade para a arte do futuro. Temos de procurar amigos radicais - eles existem. Os velhos dizem: "Na nossa juventude éramos radicais" É verdade. Na juventude eles ainda viviam. Depois, esquece-se o que se queria. Dorme-se. Está-se morto. Temos de chamar aqueles que estao acordados, sacudir os adormecidos e enterrar os mortos. Quer dizer: temos de comecar."
Uwe Lausen, a descoberta de ontem no Schirn em Frankfurt. Influenciado pela pop art, mas autodidacta e fresco. Completamente lúcido e muito sensível. Quadros fortes, arrogantes, críticos. Fazia sessoes transe de música experimental com um músico amigo, com tambores, instrumentos improvisados e voz. Drogas e duas filhas. Suicidou-se em 1970 com 29 anos. Tinha dito "Definitivo. Quem quer definitivo, quer a morte. Quem quer definitivo, deve matar-se." Coerente até ao fim.
16.2.10
12.2.10
dedicado à mana Joana
Schlag sie tot
Georg Kreisler
Prometo uma traducao completa para breve. Em geral, a ideia é: se as criancas, os vizinhos, os colegas, os anarquistas, os comunistas, os democratas, os judeus, os curdos, os brancos, os pretos te chateiam,
mata-os
limpa-os
e pronto.
Wenn dich kleine Kinder stören, schlag sie tot,
auch wenn sie dir selbst gehören, schlag sie tot,
triffst du einen Judenbengel, spiele seinen Todesengel,
schlag ihn einfach mausetot.
Siehst du eine Negerfratze, schlag sie tot,
stört dich deines Nachbarn Glatze, schlag ihn tot,
du mußt dich vor niemand schämen, mußt dir nichts zu Herzen nehmen,
schlag sie einfach mausetot.
Türken, Kurden, Libanesen und auch Weiße,
unbrauchbare Lebewesen sind halt scheiße,
Kommunisten, Anarchisten und so weiter,
mach dir nicht das Leben schwer.
Rechtsanwälte, Angestellte, Friedenstauben,
alle, die noch immer an das Gute glauben,
in den Müll, in den Dreck,
putz sie einfach weg.
Hat ein Bürger Beinprothesen, schlag ihn tot,
will ein Bürger Bücher lesen, schlag ihn tot,
Arbeitsscheue oder Streuner und vergiß nicht die Zigeuner,
schlag sie einfach mausetot.
Komm mir nicht mit Demokraten, köpf sie, kill sie,
das sind Todeskandidaten, niemand will sie,
Vater, Mutter, Schwester, Brüder, alte Freunde,
brauchst du die für irgendwas?
Pfarrer, Lehrer, Besserwisser, strangulier sie,
all die blöden Tintenpisser, massakrier sie,
merk dir eins: du bist stark,
aller Rest ist Quark.
Laß uns wieder Kriege führen, schlag sie tot,
ganze Völker dezimieren, schlag sie tot,
erst wenn sie im Grab verschwinden, wirst du dran Gefallen finden,
also schlag sie mausetot.
Mausetot frißt kein Brot,
pack sie und schlag sie tot.
Reflexoes de sexta à tarde
E nao é nada nada difícil, basta nao ter medo. E nao querer saber tudo ou ter tudo sob controlo. É que, venha o que vier...
The importance of stupidity in scientific research
A campanha Be Stupid da Diesel:
9.2.10
Coco avant Chanel
Coco, a elegância sublime e inovadora da simplicidade. Audrey Tautou perfeita no papel, os olhos muito pretos na pele branca, a força aliada à fragilidade, a relaçao de amor sem paixao com Balsan, paternalista e ternurento, e a paixao por Boy. Completamente original e de filosofia feminista, Coco moldou a figura moderna da mulher nos anos vinte, cabelos e vestidos curtos, linhas rectas, tecidos fluídos, boémia e independência. O filme é a nao perder. E ouvi dizer que há uma série francesa também muito boa.
7.2.10
2.2.10
Comeco a achar
sao mensagens do além.
28.1.10
Amor de Perdicao
Amanha vou ter uma conversa muito séria com os meus resultados. Preciso de explicar-lhes que nao estou a escrever uma novela.
23.1.10
Piropos
No Staatstheater
No quarto andar fica a Damenschneiderei*, onde trabalham quase vinte modistas. Uma sala sobre o comprido, com mesas em fila junto dos janeloes e vista sobre a cidade. A parede é forrada de caixas em prateleiras com botoes, fechos, fitas, galoes e catálogos com amostras de tecido. Em cada caixa uma etiqueta escrita à mao em letra desenhada. Um par de trabalhos por acabar enrolados em manequins pretos de veludo. Máquinas de costura. Posters de mulheres na parede. A Marilyn Monroe de vestido branco a voar em Nova Iorque. Estamos sozinhas ali, é tarde e as costureiras já foram para casa. Lá fora está escuro, nao se ouve um som, estamos sozinhas no mundo. A melhor maneira de tomar decisoes. A costureira tem ar de menina, nao lhe consigo dizer a idade. Talvez quarenta. Muito calma, pequenina, elegante. Usa uma saia escura rodada e botinhas pelo tornozelo. Mostra-nos sedas, organzas e rendas. Rendas tao finas e suaves. Etéreas. Deixa-nos tempo para mexermos nas amostras. Fala pouco. Mede a altura da noiva. Para um vestido sao três vezes a altura. Ela nao sabe desenhar, gesticula as ideias num manequim de veludo preto. As mangas, que podem ser cortadas um pouco para dentro das costas, o bolero em seda a terminar pela altura da fita do vestido.
Imagino-me a trabalhar numa sala com janelas grandes e sem computadores. Conhecer o conteúdo das caixas na parede, os tecidos pelo toque e como se faz uma saia mais rodada atrás que à frente. Mover-me aqui como em casa. Pelos corredores labirínticos sem fim. Imagino-me a fazer um trabalho manual assim, do qual se vê o resultado. E o resultado é beleza.
*Oficina de modistas