6.1.10
Zeitgeist escrito numa estacao de comboios
Já nao me lembrava de como os invernos sao cinzentos em Portugal. Vamos embora e alimentamo-nos de imagens destiladas de um país quente, solarengo, charmoso, de esplanadas e copos de cerveja a refractar raios de sol. É assim ser emigrante. Estou cá mais dias que uns poucos e percebo porque saí e percebo que hei-de viver sempre com vontade de voltar e de ir-me embora. É longe, é pequeno, é claustrofóbico, todos se conhecem, todos tentam logo encontrar um conhecido em comum, que canseira, que promiscuidade, e que falta de liberdade. Estou a exagerar, claro. Os meus estao cá, sinto-me em casa, uma casa de mulheres como num Almodovar. Tao vivo, talvez menos dramático. Há a lareira de Monchite e a excitacao de estarmos juntos. Sabemos que todos os momentos sao preciosos. É por isso que gritamos, nao conseguimos conter a excitacao e gritamos. Há os grandes amigos que me salvam, as estórias mirambolantes ouvidas pela noite dentro, e cantar o Chico na autoestrada, esquecer do tempo, Zeitgeist escrito numa estacao de comboios, quem fez aquilo. E sentir em casa, e a roda de choro, "a gente está é pegando o jeito um do outro", descobrir quem fui (sou) numa caixa de vime, pôr o colar que o pai me deu e a mae nem tinha gostado e por isso eu também nao tinha gostado. É de ouro, com contas laranja, agora já gosto. Gosto muito. Ali à frente sempre muita roupa estendida, roupa feia, calcas de pijama, toalhas turcas com desenhos grandes. Quando chove, poe-lhes um plástico por cima e pronto. Tanta roupa em casas pequenas, será que lavam para fora. A cigana debruca-se na varanda a fumar, mexe na roupa a ver se está seca. Debruca-se com as mamas de fora da varanda. Camisola de lä parda, decote junto ao pescoco, cabelos muito compridos apanhados. E volta para dentro.
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2 comentários:
eu sinto a mesma coisa: gosto muito de lá estar, mas por pouco tempo, para sair de lá ainda com saudades :)
Então o casamento dos gays não merece um post para haver comentários em barda?
Vamos lá recette de couscous,força nisso!
O verdadeiro andré
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