21.1.08

Fim-de-semana

Fomos na sexta e voltámos no domingo. Mochila às costas, sandwich no bolso, livro na mao. Partimos às 9 da manha e até Paris foram 4 horas a acabar os 100 Anos de Solidao.

Paris é uma cidade circular onde nao existe uma estacao de comboios central (quando se vem da Alemanha, acha-se estranho nao haver uma estacao central). Chegamos na Gare de L'Est, território da Amelie Poulain e saímos pela escadaria que aparece no filme. A minha excitacao aumenta. Paris dá-me sempre uma excitacao diferente de todas as outras capitais. Pelo caminho entre as duas estacoes de comboio, já estou noutra, vou a flutuar. Observo as pessoas. O que mais gosto nas grandes cidades é de olhar para as pessoas.

Chegamos à Gare de St. Lazare, afinal foram só 20 minutos, 0 que nos deixou 1hora e meia de folga. Em Paris! Ao pé da Gare de St. Lazare fica o Boulevard Haussman, uma grande avenida comercial, com os míticos Armazéns da Printemps em Art Nouveau. O Francois compara o Haussman ao Marquês de Pombal. Haussman foi responsável pela enorme transformacao de Paris na segunda metade do século XIX, deitando abaixo bairros da idade média para aí contruir grandes avenidas. Uma das razoes para isto era a dificuldade em controlar revoltas populares nos bairros antigos pelos militares franceses, treinados para combate em campo aberto. Deixo o Francois num café enquanto ando pelas ruas (e pelos saldos) ali ao pé. Compro uns sapatinhos pretos tipo sabrinas que me faziam falta para o Verao, com a desculpa de que em Darmstadt nao se encontra nada (que é verdade). O casaco de inverno que se usa é à menina: gola redonda e botoes só na parte superior. Registo.

Hora de continuar a viagem, em direccao à Normandia. Acabei o livro e nao me apetece comecar Os Reis Malditos. Leio a revista Monde2. Tem uma entrevista ao Armani, que é simples, workaholic e tem mau feitio. E veste o mundo inteiro. Diz que se encontrasse um génio da lâmpada lhe pedia (1) saúde, (2) má memória para esquecer as ofensas e (3) morrer sorrindo. Tem desejos simples e eu gosto dos desejos dele. Penso que desejos pediria eu e decido-me pelos mesmos. Pergunto ao Francois que desejos pediria ele: (1) teleportacao, (2) voar, (3) invisibilidade. Também nao vale a pena ser modesto nos sonhos que se tem.

Antes de chegar à costa, passamos por uma zona completamente alagada. É bonito, principalmente por ser o fim da tarde. Mas de resto, terrenos alagados também há lá na minha terra, penso eu. O Francois pergunta ao senhor que está ao lado dele o que se passa. O senhor é muito simpático e o que ele nos conta é fantástico. Vamos o resto do caminho à conversa com ele. É lobo do mar e nunca se deve perder uma oportunidade de falar com um lobo do mar quando ele está na disposicao de revelar segredos. A inundacao que vemos é um pântano salgado, ou prés salé. Os prés salés formam-se em zonas baixas na maré alta, alguns só nas marés mais extremas. É típico da Bretanha e da Normandia. O Mont de St Michel, por exemplo. O senhor explica-nos que, à latitude a que estamos, sao as marés mais amplas do mundo (ou do hemisfério norte, nao sei): 17 metros entre maré cheia e maré vazia!! Que no Canadá se passa a mesma coisa. Acho isto curioso. Pergunto-lhe se quanto mais para norte, mais amplo. Ele diz que nao, que é só a esta latitude. Curioso. Pergunto-me se será a mesma coisa no Pacífico. Mas ele já está a contar que se construiram diques para controlar os pântanos e para que estes possam servir de pasto aos animais na Primavera. Os animais que comem estes pastos salgados têm um gosto especial (a mar..?) e sao conhecidos por prés salés. Fico com vontade de provar.

Chegamos a Cherbourg às 6 da tarde. Cherbourg é uma cidade construída sobre terrenos roubados ao mar na ponta de uma península da Baixa-Normandia, com um enorme porto de águas profundas. Fustigada pelos ventos do Atlântico e pelas guerras da Europa, foi cosmopolita e efervescente na época dos transatlânticos. Hoje, a economia é ligada ao porto, à construcao naval e ao turismo.
Gosto da cidade mal saímos da estacao. No caminho, um enorme e impressionante cemitério, cruzes em pedra escurecida altas e alinhadas. Nao posso deixar de pensar nas influências celtas. Gosto dos edifícios típicos de um sítio onde a Natureza manda: paredes grossas, janelas pequenas, três degraus para entrar em casa. Portas em madeira trabalhada e pintadas de cores vivas. Maresia. Ali ficamos o fim de semana e eu encho os olhos de mar, os cabelos de vento e os pulmoes de maresia antes de fazer a viagem de volta.

8 comentários:

Anônimo disse...

Vai aqui, que percebes logo o porquê das marés

http://www.ancruzeiros.pt/ancfmares.html

Farica

Ritona disse...

acho que ainda não disse à tia que acho que escreve muito bem!qualquer dia tem de escrever um livro:)!gostei...

morte_negra disse...

eu fui à praia de mira nesse mesmo domingo. acho que é a unica semelhanca entre o teu fds e o meu.

Anônimo disse...

E nao é uma semelhanca nada má! Concerteza menos fria e ventosa :)

leo

Anônimo disse...

Obrigada Ritona :) é só comecar... antes do blog nunca escrevia.
tia nono

panamá disse...

Que descrição deliciosa! Deves ter visto lindos contextos! Muitos beijinhos e obrigada:)

andré disse...

mais um grande post, obrigado pelas histórias leo.

:)

Anônimo disse...

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lolikneri havaqatsu