13.12.07

O que para aí vai...

Agradeco à vizinha Branca a publicacao da crónica do António Barreto, no Público de 25 de Novembro de 2007, que nao me tinha chegado aqui.

Nao embarco nas discussoes hippies anti-globalizacao. (Nem poderia, eu que a vivo.) Acho que (1) a globalizacao um facto assumido, virar-lhe as costas é como enfiar a cabeca na areia. E (2) como em muitas outras coisas, acredito que seja possível aproveitar o lado positivo aceitando algum lado negativo que daí venha (a isto se chama fazer compromissos). Tudo bem que, geralmente falando, a mudanca deve trazer um balanco positivo. Mas querer que a mudanca nao implique compromisso é naïf. E rejeitar a mudanca a todo o custo é, mais uma vez, enfiar a cabeca na areia.

E sou pró-Europa. O problema, que nao me apetece discutir, é a incompetência dos habitantes daquele nosso Olimpo Europeu, que leva à sua total descredibilizacao. Nao acredito que, na Europa, a globalizacao, neste caso de motor (também) político, leve necessariamente à uniformizacao. Para isso, o motor capitalista é mais efectivo que o motor político. O que sinto, isso sim, é que este motor político leva, na sua face positiva, ao encontro dos povos da Europa. E que, quando nos encontramos, chegamos à conclusao que temos semelhancas e diferencas. E que, como seria de esperar, dada a história que partilhamos, temos mais semelhancas do que diferencas. As diferencas resumem-se às línguas e algum folclore. Mais importante que isso, os sonhos, as maneiras de ver o mundo e os valores de pessoas da minha geracao de vários países europeus coincidem. Acredito, isso sim, que a globalizacao reaviva singularidades culturais, bons nacionalismos e que trás com ela uma curiosidade muito saudável do europeu pela sua própria cultura e pelas culturas vizinhas.

Ao almoco, dois portugueses, um francês, um turco e um georgiano discutíamos isto mesmo. Em Franca nao há cá cantigas. Venha quem vier, que o foie-gras e outras iguarias de obtencao ou confeccao mais ou menos discutível nao hao-de faltar na mesa. E o francês dizia-nos que para isso o estado francês paga à UE uma taxa (perdoem-me a ignorância, mas como se chamará essa taxa? Será Taxa de Prevaricacao). Ora que curioso… As leis fazem-nas eles e os alemaes, mas nem uns nem outros as aplicam. Nao… isso é para o tótó do portugues que diz sim senhor a tudo (maldita ditadura de já lá vao 30 anos!) porque, entre outras coisas, nao tem dinheiro para pagar a tal taxa.

Porque as novas medidas de higiene e seguranca alimentar da ASAE sao inaceitáveis para qualquer país, assinemos todos a peticao online. É o mínimo que podemos fazer!

6 comentários:

Anônimo disse...

Chamam fois gras porque nao vem na lata se nao era patè
carlota

andré disse...

aqui falas de dois temas: por um lado a uniformização dos processos de fabrico, venda e quem sabe no futuro até de degustação; por outro lado de globalização.

eu não sou contra a globalização, sou sim contra esta globalização. não lhe viro as costas, mas também não consigo deixar de achar (e de perceber) que claramente não estamos a caminhar para o sítio certo: há cada vez mais assimetrias geográficas, e nada paradoxalmente, à medida que a globalização se vai tornando mais real.

quanto à uniformização da comida: ainda ontem falava sobre isso com dois amigos. há 40 anos toda a gente comia couves da horta, e hoje a maior parte das pessoas já só compra as dos supermercados produzidas em massa. no futuro sem dúvida só comeremos couves congeladas, e daqui a ainda mais tempo concentrado de couve, até deixarmos de perceber o que estamos a comer.

por um lado o objectivo é manter-nos assustados ao bom estilo orwelliano, e por outro o de limitar quem pode vender, e a quem pode vender. só as grandes cadeias poderão daqui a décadas cumprir as regras da asase da altura.

leo disse...

Bem, sem globalizacao nao haveria uniformizacao dos processos de fabrico e de consumo. As regras para esta uniformizaçao chegam-nos da UE que é, em si, fruto da globalizacao. "É tido como inicio da globalização moderna o fim da Segunda Guerra mundial, (...) criaçao de mecanismos diplomáticos e comerciais para aproximar cada vez mais as nações uma das outras. Deste consenso nasceu as Nações Unidas, e começou a surgir o conceito de bloco econômico pouco após isso com a fundação da Comunidade Européia do Carvão e do Aço - CECA." [Globalizacao, in Wikipedia]

Nao imagino um futuro Orwelliano onde comeriamos so concentrado de couve, ou melhor, nao quero acreditar num futuro assim. E voltando a globalizacao, acho que com ela vem alguma uniformizacao de culturas, sim, mas vem tambem um reavivar de particularidades culturais, de folclores e de bons nacionalismos. E vem tambem a curiosidade do homem pela sua cultura e pelas culturas vizinhas. E essa curiosidade, seja ela turistica ou outra, tambem pode ajudar a manter vivo o caracter particular de cada povo.

leo disse...

Também ha patés e patés. Uns conferem com as regras de Bruxelas e outros talvez nao.

Mas uma vez desenlatados, ha uns que ascendem a foi gras

Branca disse...

Diz-se que a globalização começou antes, aquando dos Descobrimentos. Ou seja, a partir da altura em que se começou a ter conhecimento da existência de outros povos, e a efectuar trocas entre eles. Não só económicas, como culturais. O fenómeno da globalização é como dizes irreversível, e é uma dialéctica entre o local e o global, e muitas vezes vê-se substituido pelo termo glocalização. Como exemplo trago a Festa dos Tabuleiros. É um fenómeno local, que pela sua especificidade se transporta para o global. Cresce o sentido identitário local (tomarense), e afinam-se os contornos da festa projectando-se no global.

Bom tema, este, Engenhêra! Vem me cá falar de curvas senoidais...

Anônimo disse...

tens razao Branca, bom tema! Boa discussao!
leo