28.11.07

Marrocos

Porque aqui o Inverno é duro e longo, os dias em Marraqueche nao podiam ter sido melhores.

Quando se percebe que a maior parte das pessoas que falam connosco na rua nao estao a tentar vender ou roubar, é que se comeca a absorver Marrocos com todos os sentidos:

...com os olhos as cores fortes da terra, do céu, dos bazares, dos azulejos, os picos do Atlas cobertos de neve na linha do horizonte
...com o nariz a hortela pimenta, que cheira no meio da rua ao pé dos vendedores e deliciosamente tambem antes de beber o cha, e um cheiro que nao sei de que era mas que me fez lembrar alheiras doces... um daqueles cheiros intemporais que tenho guardados e que, quando activado, me transporta para casa
...com a boca, e depois de 2 semanas a purés variados, foi a orgia total. O melhor: os panachés (sumos de fruta variados com ou sem leite), melhor de todos foi o de abacate, divinal
...com os ouvidos os chamamentos das mesquitas, dos quais o melhor o da alvorada (por volta das 5h) ouvido naquele limbo chamado modorra entre o sono e o despertar, os silencios dentro dos riads, casas marroquinas viradas para dentro e para um pateo interior (como um claustro)
...com o tacto a pele macia depois do Hammam que fizemos em que uma marroquina dos seus 50 anos, que nao falava mais frances do que eu arabe, nos esfregou dos pés a cabeca como uma mae

Tudo isto foi mesmo maravilhoso, honestamente, so depois do choque cultural ter passado. Dois loiros vindos do norte da Europa aterrados na Medina de Marraqueche nem sempre sabem as quantas andam ou até se sera boa ideia tirar o guia da mochila. A minha loirice é geograficamente dependente mas, em Marrocos eu sou, definitivamente, loira. So me lembrava de "nao olhes para todo o lado, faz de conta que és daqui". Na Alemanha ninguém se fala no meio da rua e em Portugal, tirando Monchite, tenho impressao que ainda menos. Estamos todos ocupados a dar-nos ares. No primeiro dia nao sabiamos mesmo como reagir as pessoas que metem conversa no meio da rua, por medo. No fim nao queriamos vir embora e deixar aquelas pessoas abertas, sinceras e conversadoras e muito menos os miudos do sorriso:
- Bonjour Madame, ça va?
- Bonjour! ça va, et toi?
(Sorriso)

So queria contar mais uma coisinha, que isto ja vai longo. Numa das deambulaçoes meio conscientes meio perdidas passamos a frente de uma escola em pleno fim das aulas da manha. Os miudos sairam a correr e atacaram, literalmente, os vendedores de doces em frente a escola. Olhamos um para o outro a rir e dissémos: - Isto é igual em todo o mundo!

5 comentários:

Ritona disse...

fiquei com vontade de conhecer marrocos....

foxtrot disse...

Nao achei longo... por mim estava a gostar tanto que era capaz de ler tantos mais paragrafos como os que escrevesses.
Fiquei com vontade de fazer esse hammam... um dia quem sabe!
Bjinhos
Maria

Branca disse...

Também estava embalada nos teus parágrafos, já sabes o qto aprecio as tuas descrições... quanto a discrições, não imagino dois loiros a tentar passarem-se por marroquinos...:D daria um filme! A 2ª vez que fui ao centro comercial da Mouraria (1ª vez sozinha lá), lembro-me de abrir a encharpe larga, tapando o peito e os braços... tem graça questionarmo-nos como os outros nos vêem...Beijinhos

leo disse...

Sim, é estranho sentirmo-nos diferentes e olhados.
Obrigada pelos comentarios!

morte_negra disse...

fui uma vez a marrocos. rabat marakexe e casablanca. acho que era novo demais para conseguir gostar daquilo. para mim marrocos nao passou de um lugar com casas degradadas, lixo no xao e gajos xatos a querer o meu dinheiro.

se calhar ja la cheguei com preconceito. mas agora fiquei com vontade de la ir :)