24.1.14
O mundo descobre-se na rua
Antes de partir para uma odisseia faz as devidas despedidas dos brinquedos, da casa, verbaliza que eu fechei a luz. Desce as escadas até lá abaixo e em preparacao vai repetindo "queta, queta, queta" que é um mantra que tem como objectivo explicar-me a mim que nem pense em optar por outro veículo senão a bicicleta que nao é bi nem tri porque tem quatro rodas. É óbvio que numa odisseia se vai ao volante!
E aí vamos nós, portao fora, rua abaixo. Tudo é devidamente analisado de perto e, se possível, com as próprias maos, claro. As portas, os portões, as entradas das casas, as campainhas, as bibicletas, as motas e os carros estacionados. Todas as motas pertencem ao pai, pois claro. Nas entradas de ar das caves espreita, grita "Olaa", e também "Halloo" - quem sabe está lá alguém esquecido e nunca se sabe que língua fala. Eu volta-e-meia "Vá, anda!". Se há alguém a ouvir música de janela aberta, avisa-me, de dedo no ar junto ao ouvido: "La-la!". Cães e gatos sao pontos altos da odisseia. E as pessoas são cumprimentadas. "Hallooo!" A maior parte cumprimenta também. Algumas sortudas são cumprimentadas repetidas vezes, até virarem a esquina e já não se verem.
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