4.2.11

Hoje precisava de post its, agrafos e pastas e fui ao senhor que nos distribui material de escritório. Nao sei como o senhor se chama. Só sei que se senta numa salinha ao fundo do corredor, onde guarda um armário cheio de tralhinhas. Vamos lá, escolhemos o que queremos e preenchemos tudo num formulário: o nosso nome, o que levamos e o código do nosso departamento para as contas.

Depois de ter levado o meu tempo a escolher bem as cores de post its que queria, levantei os olhos do formulário quando o senhor me disse com um tom de voz que infelizmente conheco que a mulher estava doente. É aquele tom de voz que se usa quando nao é nem constipacao, nem alergia, nem mesmo uma perna partida. É aquele tom de voz que se usa quando até de dizer o nome da doenca se tem medo. E ele nao o disse, só me disse a primeira letra. Eu nunca tinha falado com o senhor. Ele estava desorientado. Que já pensava que estivesse curado, já nao era a primeira vez. Mas agora tinham-no descoberto noutros sítios.

E eu a dizer para esperarmos o melhor. Eu a dizer que ía correr tudo bem. Mas a pensar que nao ía. Eu a saber que nao ía. Que provavelmente nao. E depois desta conversa, o absurdo de ter que escrever no formulário quantos post its levava.

3 comentários:

maria 3a disse...

este post foi o post mais real que li nos últimos tempos. e partiu-me o coracao.

Anônimo disse...

Mais real e mais poético, porque a literatura encena o real enquanto carência. A mim não me partiu o coração, porque este já está partido.
Cachana

Anônimo disse...

...escreves tão bem. Um beijo, Clara