18.12.09

blog'o de notas

afinal a música experimental existe.
quero muito explorar por aqui:

Memórias

Sem dúvida que uma das memórias de Monchite é sonora. E é ligada a um momento do dia de que gosto muito, a manha. Gosto da luz da manha e gosto da sensacao de ter um dia inteiro pela frente. Quando em Monchite, de manha, se abriam as janelas, e imaginemos que era a janela do quarto onde dormia o avô Joao, entravam nao só a luz mas também os sons dos tractores de caixa aberta que desciam para a baixa. A janela do quarto do avô Joao dá para um vale apertado - onde no inverno corre uma ribeira onde se apanham sapos e, diz a lenda, cágados. O que interessa é que esse vale pega nos sons da baixa, concentra-os e envia-os directamente para a janela do avô. E eu estou lá, mao em concha na orelha, nariz frio, a apanhá-los a todos, antes de me chamarem para ir para a escola em Tomar.

O avô Joao dormia no segundo melhor quarto da casa, a seguir ao dos pais, e abria a janela TODAS as manhas, quer fosse Verao ou Inverno. Quando o avô se deitava, a mae sentava-se na beira da sua cama e ali tinham conversas que me pareciam ser meio em surdina e durar horas. Nos dias em que o avô lá estava, em vez de tomarmos o pequeno almoco a correr, sentavamo-nos à mesa que já tinha sido posta pelo avô antes de descermos. E nas noites de Verao, a seguir ao jantar, eu dava passeios com o avô, de chapéu e bengala, até à capela e, nesses passeios, o avô ensinava-me a apanhar grilos dos seus buracos com uma palha e muita paciência.

Tao bom que é lembrar.

(ao andré, obrigada pela dica)

A sonhar acordada

com o fim do doutoramento.
Masallah.

13.12.09

Oetinger Villa

No mesmo sítio onde há encontros anti-fascista, concertos punk, cristas cor-de-rosa, meias rasgadas com mini-saias de couro ou calcas pretas esterlicadas e botas de biqueira de aco, fans a despirem-se no palco e cadeiras partidas há também festas espanholas. Copos de plástico com sangria acucarada a um euro, touros estampados em t-shirts vermelhas, flores no cabelo de miúdas com vestidos sexy, patilhas e fios de prata ao pescoco, gipsy kings e paquito chocolatero. Ecletismo. Os concertos punk levam uma malta muito local, sao bandas da zona e os fans sao fiéis e ferrenhos. Em geral, a Oetinger Villa tem uma gente politizada e engaged. Tem estatuto de centro cultural, um centro cultural underground, um palácio antigo e decadente com ar de casa assombrada. Entra-se para um hall de pé direito tao alto como a própria casa, que se desenvolve em volta desse hall em escadas e varandas de madeira muito escura. Há uma lareira gigante no hall, e as paredes estao grafittadas ou coladas com posters por cima de posters dos diferentes eventos. Na festa espanhola, uma cena paralela habita a villa. Sao estudantes de erasmus ou malta da agência espacial europeia, espanhois e outros latinos, cosmopolitas, despreocupados, uma festa espanhola aqui como em Roma, Londres ou Barrancos. Os locais que se apresentam sao namorados ou namorados wanna-be de espanhóis de cabelo escuro, camisa aberta e pelo no peito ou de espanholas de flor no cabelo e maos sevilhanas.

Gosto deste ecletismo, gostei do concerto punk e da festa espanhola, mas mais ainda gostei de ir às duas neste sítio. Além disso, para dancar o paquito chocolatero estou sempre pronta.

10.12.09

Namesake

Outra vez um processo de crescimento. Gogol em busca da sua identidade, no meio do passado intrincado entre a cultura indiana bengali e a vida nos estados unidos. Nova Iorque e Calcutá numa só. A primeira viagem à Índia na adolescência, a decisao de estudar arquitectura tomada numa visita ao Taj Mahal. A dor do tempo perdido, a esperanca na descoberta de quem se é, a sensacao de liberdade. Avioes, malas, comboios, viagens, saudades. Sempre saudades. O filme mais bonito dos últimos tempos: tanto a fotografia - as cores, os contrastes, a simplicidade - como a história e as personagens.

La Faute à Fidel

“Les communistes ? c’est des gens rouges et barbus qui ne craignent pas le seigneur et qui déménagent tout le temps“

A politizacao e "esquerdizacao" dos seus pais, vistas através dos olhos de uma menina de 9 anos da classe alta, na Franca pós 68. Ela resiste, revolta-se, questiona, apercebe-se das incoerências, exige explicacoes e respostas, vive de uma forma muito intensa a mudanca de vida, de casa, de hábitos, de valores. O filme mostra de uma maneira muito simples e cómica a evolucao social a partir do Maio de 68.

Mais aqui.