28.11.11

Alemanhas

Na Alemanha de Leste há espaços no meio das cidades em que a erva ainda pode crescer. Entre prédios e canais, espacos onde caberiam quarteiroes inteiros sao deixados em paz, rodeados de arame e deixados em paz. É possível passear sozinho no parque, ao longo do canal, por ruas intermináveis. E há prédios e casas onde vive gente que se aquece com carvao, e que tem que sair do apartamento para ir à retrete. Há casas sem telhado, prédios inteiros fechados, tapumados e grafitados. E antigas fábricas vazias onde artistas sao tolerados. Fábricas de tijolo encarnado, porta aberta, entra-se por ali adentro, corredores e corredores vazios, e janelas altas com vista sobre a cidade. E silêncio. Ninguém ali.

A perfeicao aparente cansa. Há dias em que nao a vejo, outros em que a sinto sofucante. Os prédios perfeitamente recuperados de acordo com regras energéticas, a relva sempre aparada, as árvores sempre podadas, os carros todos novos, o chao imaculado, tudo no seu lugar e uma cerca à volta. E tanta gente a viver junta, nao se pode dar um passeio sem encontrar gente que passeia com roupa de passeio porque essa é a roupa correcta para passear. E as urbanizacoes modernas, casas em fila, todas com a relva aparada, um trampolim e uma cabaninha de jardim. A ver quem tem o jardim mais estéril. E os ciclistas também com a roupa correcta e o capacete que me abordam se vou no outro lado da estrada, ou em cima do passeio, ou sem luz, ou se alguma outra coisa na sua opiniao foge à regra. E os que comentam o facto de se atravessar a estrada quando o sinal dos peoes está vermelho, o típico "que lindo exemplo está a dar aos meus filhos". Esta mania irresistível do controlo cívico. E eu a pensar, coitadinhas das criancas, em casa só têm bons exemplos, os maus é como se nao existissem.

Na Alemanha de Leste, nos chamados Novos Estados, há duas coisas reconfortantes: o espaço e a decadência.