Queria ir à tarde, levar a família toda, entrar com os casacos, os gorros, os capacetes e as mochilas, fazer barulho lá na repartição, jurar pela constituição com o Nuno a fazer uma pergunta qualquer impaciente em altos berros, deixar migalhas de bolacha no chão e depois mudar a fralda ao Manel no corredor...
Vou ter que ir às 8:30 da manhã, sem miúdos, e depois ir a correr para o trabalho...
Que pena, que anedota perdida.
16.3.15
No norte dá-se mais valor à primavera
Todos os anos se repete. Os primeiros dias de primavera parece que chegam de repente, como uma explosao inesperada quando já nao se julgava possível que a escuridão e o frio passassem. E as pessoas, nós incluídos, passam dias inteiros na rua, inebriados com a luz, patetas com a vida, a sorrir uns aos outros como nunca se viu, todos bem dispostos, todos amigos, todos sim, hoje comemos um gelado, e vamos ver os patinhos, e ficamos horas no parque, e olha vem lá mais este e mais aquele, e fica-se ali sentado na relva a ver o dia a passar e reconciliado com a vida.
7.5.14
12.2.14
A vida dos pobres
A ama do Nuno, turca, viúva, com quatro filhos para acabar de criar entre os 12 e os 22 anos, uma família muito equilibrada, todos muito bem educados.
Foi posta na rua da casa onde vive e trabalha como ama por causa de querelas com os vizinhos. O senhorio, uma sociedade supostamente social preferiu pô-la na rua e assim acalmar os vizinhos (nao sei quantos) queixosos.
Em Darmstadt é uma missao impossível alugar uma casa, quanto mais a um preco pagável. As contas sao assim: ela ganha com 3 miudos 1800 euros brutos, dos quais limpos lhe ficam provavelmente nao mais que 1000. Só a renda de uma casa com quatro quartos custa quase sempre mais que isso.
Há-de ter que ir outra vez para a fila da sociedade supostamente social que lhe faz de senhorio ver se arranja uma casa por 600 euros. E se a mandarem para cascos de rolha, embora os filhos andem todos aqui na escola no bairro, azar. A vida dos pobres sem voz na Alemanha rica é mesmo assim.
Estou zangada! Como é que esta gente pode viver com a consciencia de a ter posto na rua? Uma mae com 4 filhos?! E nao me canso de repetir ao Chris e aos meus amigos alemaes: nao se iludam, que isto é uma sociedade racista! Os alemaes sao racistas para os estrangeiros mas ainda mais racistas sao os estrangeiros entre eles. Nao há respeitinho. Nao há confiancas.
E estou zangada por a ama nao ter dito nada (deve ter tido vergonha...). Porque nós, os pais, talvez tivéssemos podido fazer alguma coisa. Com os nossos (os deles) olhos azuis, com os nossos (os deles) cabelos louros, com os nossos titulos académicos, com os nossos fatos de trabalho e talvez até com contactos... Porque isto é assim que se decide... vem uma mae turca sem voz, quem é que lhe liga, mas - eh lá! - atrás dela vem outra gente cuja voz, essa, nos pode dar problemas... Deixa lá avaliar o caso bem avaliado.
Que nojo, que nojo, que nojo.
Foi posta na rua da casa onde vive e trabalha como ama por causa de querelas com os vizinhos. O senhorio, uma sociedade supostamente social preferiu pô-la na rua e assim acalmar os vizinhos (nao sei quantos) queixosos.
Em Darmstadt é uma missao impossível alugar uma casa, quanto mais a um preco pagável. As contas sao assim: ela ganha com 3 miudos 1800 euros brutos, dos quais limpos lhe ficam provavelmente nao mais que 1000. Só a renda de uma casa com quatro quartos custa quase sempre mais que isso.
Há-de ter que ir outra vez para a fila da sociedade supostamente social que lhe faz de senhorio ver se arranja uma casa por 600 euros. E se a mandarem para cascos de rolha, embora os filhos andem todos aqui na escola no bairro, azar. A vida dos pobres sem voz na Alemanha rica é mesmo assim.
Estou zangada! Como é que esta gente pode viver com a consciencia de a ter posto na rua? Uma mae com 4 filhos?! E nao me canso de repetir ao Chris e aos meus amigos alemaes: nao se iludam, que isto é uma sociedade racista! Os alemaes sao racistas para os estrangeiros mas ainda mais racistas sao os estrangeiros entre eles. Nao há respeitinho. Nao há confiancas.
E estou zangada por a ama nao ter dito nada (deve ter tido vergonha...). Porque nós, os pais, talvez tivéssemos podido fazer alguma coisa. Com os nossos (os deles) olhos azuis, com os nossos (os deles) cabelos louros, com os nossos titulos académicos, com os nossos fatos de trabalho e talvez até com contactos... Porque isto é assim que se decide... vem uma mae turca sem voz, quem é que lhe liga, mas - eh lá! - atrás dela vem outra gente cuja voz, essa, nos pode dar problemas... Deixa lá avaliar o caso bem avaliado.
Que nojo, que nojo, que nojo.
7.2.14
Lembro-me do choque cultural que foi voltar ao trabalho depois de 7 meses em casa e de achar que eram todos um bocado malucos ou gostavam de levar a sério coisas que no fundo nao interessariam a ninguém. Para se sentirem importantes. Como um jogo. A brincar aos empregos.
É que está-se em casa e tudo é lógico e simples. É assim, come-se porque se tem fome, toma-se banho quando se está sujo, vai-se à rua para apanhar ar ou porque está sol e isso é imperdível, arruma-se quando se torna insuportável, planeia-se uma visita, uma viagem, uma festa, um encontro.
Apesar disso, foi óptimo voltar ao trabalho depois da licença. E acho que temos imensa sorte e que conseguimos ter muito tempo juntos, a dois e a três. E isso é luxo.
É que está-se em casa e tudo é lógico e simples. É assim, come-se porque se tem fome, toma-se banho quando se está sujo, vai-se à rua para apanhar ar ou porque está sol e isso é imperdível, arruma-se quando se torna insuportável, planeia-se uma visita, uma viagem, uma festa, um encontro.
Apesar disso, foi óptimo voltar ao trabalho depois da licença. E acho que temos imensa sorte e que conseguimos ter muito tempo juntos, a dois e a três. E isso é luxo.
6.2.14
"Minho! Heiß!"
"Ontem falámos com a Carminho, nao foi? E a Carminho tem uma lareira, pois. Estava quente, a lareira."
"Ja."
"Mamel!" - A apontar para a cadeirinha que comprámos para a bicicleta.
"Essa cadeira é para o Manel, sim, e também para o Nuno. É para os dois. Para andar na bicicleta grande."
"Queta"
"Quer ir à rua com o pai nessa cadeirinha?"
"Jaaaaa! Jaaaaaa!"
Fala comigo a fazer voz de quem me está a explicar coisas, que é a mesma voz com a qual eu lhe falo.
"Ontem falámos com a Carminho, nao foi? E a Carminho tem uma lareira, pois. Estava quente, a lareira."
"Ja."
"Mamel!" - A apontar para a cadeirinha que comprámos para a bicicleta.
"Essa cadeira é para o Manel, sim, e também para o Nuno. É para os dois. Para andar na bicicleta grande."
"Queta"
"Quer ir à rua com o pai nessa cadeirinha?"
"Jaaaaa! Jaaaaaa!"
Fala comigo a fazer voz de quem me está a explicar coisas, que é a mesma voz com a qual eu lhe falo.
24.1.14
O mundo descobre-se na rua
Antes de partir para uma odisseia faz as devidas despedidas dos brinquedos, da casa, verbaliza que eu fechei a luz. Desce as escadas até lá abaixo e em preparacao vai repetindo "queta, queta, queta" que é um mantra que tem como objectivo explicar-me a mim que nem pense em optar por outro veículo senão a bicicleta que nao é bi nem tri porque tem quatro rodas. É óbvio que numa odisseia se vai ao volante!
E aí vamos nós, portao fora, rua abaixo. Tudo é devidamente analisado de perto e, se possível, com as próprias maos, claro. As portas, os portões, as entradas das casas, as campainhas, as bibicletas, as motas e os carros estacionados. Todas as motas pertencem ao pai, pois claro. Nas entradas de ar das caves espreita, grita "Olaa", e também "Halloo" - quem sabe está lá alguém esquecido e nunca se sabe que língua fala. Eu volta-e-meia "Vá, anda!". Se há alguém a ouvir música de janela aberta, avisa-me, de dedo no ar junto ao ouvido: "La-la!". Cães e gatos sao pontos altos da odisseia. E as pessoas são cumprimentadas. "Hallooo!" A maior parte cumprimenta também. Algumas sortudas são cumprimentadas repetidas vezes, até virarem a esquina e já não se verem.
13.12.13
20.9.13
As maezinhas neuroticas (podia escrever um romance, mas nao me dava prazer nenhum)
Nao ha paciência para as maezinhas a acharem que se os filhos usarem sapatos em segunda mao ficam com os pézinhos deformados. Nao dá para ficar sério... Acham realmente que o mundo inteiro que nao compra sapatos de 50 euros tem os pés deformados? Coitados de nós...
12.3.13
os areanos
E sim, às vezes oico coisas como "Nao parece nada portuguesa, parece mais alema", às quais reajo com pouco mais do que um sorriso muito amarelo. O lindo ideal areano está entranhado muito fundo. E isto mostra que possivelmente as minhas cores nao sao assim tao indiferentes na minha integracao (palavra feia porque pressupoe uma anterior nao-integracao).
11.3.13
9 meses
Ter filhos é uma afirmacao de esperanca no futuro. E penso que é importante educar os filhos pragmaticamente para que se adaptem na sociedade (ou em varias sociedades) facilmente. Mas igualmente importante é ensinar a independencia de espírito, mostrar que o mundo é grande e diferente e que nao devemos aceitar correntes.
Sobreviver alerta
Engracado. Lembro-me de a Professora da Escola Primária de Tomar nos ter falado sobre a diferenca entre hemisfério norte e hemisfério sul e a exploracao dos recursos dos países pobres pelos países ricos. Nao percebi muito bem, era demasiado abstracto, mas lembro-me da ideia. E agora admiro-me sobre os conteúdos subversivos que a minha Professora, na altura já à beira da reforma, nos passou.
É preciso estar bem sóbrio para aqui viver e ainda assim acreditar no futuro. Nao gosto destas generalizacoes mas é certamente por serem todos tao bem comportados, tao politicamente correctos, tao zelosos e tao desejosos de ser o cidadao sem mácula que a História foi como foi. Mas de repente ficam todos muito admirados: como foi possivel? E ainda no outro dia, na cantina, uma colega estava indignada com o anti-semitismo na Roménia, onde tinha estado num casamento e onde as pessoas nao se inibiram de lhe dar os parabéns pelos feitos do nazismo. Isto deixou-a muito desconfortável. Que afronta!
É preciso continuar a ir a concertos punk e a conhecer as pessoas certas, para nao me sentir encurralada, formatada e encaixilhada. É uma questao de sobrevivencia.
18.2.13
Veganos
Resolvemos ser veganos durante a quaresma.
Bom, tirando a manteiga, o paté e os queijos que ainda estao no frigorífico e que têm que ser comidos, até agora tudo bem. A regra é nao comprar mais produtos nao-veganos. Fui ler uns sites veganos e os próprios profissionais dizem que ser vegano é uma utopia.
Parece-me que nao estamos a levar a coisa muito a sério.
Bom, tirando a manteiga, o paté e os queijos que ainda estao no frigorífico e que têm que ser comidos, até agora tudo bem. A regra é nao comprar mais produtos nao-veganos. Fui ler uns sites veganos e os próprios profissionais dizem que ser vegano é uma utopia.
Parece-me que nao estamos a levar a coisa muito a sério.
12.12.12
20.11.12
Depois, aparece um dente, que provavelmente explica quase tudo.
De repente, uma semana difícil. Irritado, impaciente, sem querer comer mas a comer quando o puré lhe aparece na boca, sem saber o que quer, a chorar sem parar antes de dormir e ainda mais quando vamos ao quarto pôr a chucha e nos vê, e ainda mais quando o deito depois de se ter acalmado ao colo. Penso que o desmame lhe custa, e talvez me custe a mim também. Às vezes já nem sei se certas coisas partem de mim ou dele. Difícil, o mais difícil desde que nasceu. Não sabemos muito bem o que se passa nem o que fazer.
15.11.12
Na sala
pai, fome, biberon, choro, chucha, biberon, cantigas, choro, silêncio, choro, chucha, biberon, silêncio.
Paciência e determinação. E um pai contente por ter amamentado.
Paciência e determinação. E um pai contente por ter amamentado.
7.9.12
Amoras
A velha da praça, dia-sim, dia-não, ralha comigo, que se não lhe compro as amoras, que nunca mais vai apanhá-las, e que estão a ficar secas com este calor, e que tanto trabalho lhe deram a apanhar, e que ninguém as quer. Depois da afronta de mais um dia sem comprar amoras, o mínimo é sair de lá com um quilo em vez de meio de figos.
21.7.12
Pieguice N° 2
Está a rir-se para nós.
E é assim que, durante o pequeno almoço numa manhã - ainda por cima chuvosa - de sábado, um pai e uma mãe engripados, relativamente mal dormidos e um bocado mal dispostos se esquecem disso tudo.
E é assim que, durante o pequeno almoço numa manhã - ainda por cima chuvosa - de sábado, um pai e uma mãe engripados, relativamente mal dormidos e um bocado mal dispostos se esquecem disso tudo.
19.7.12
Pieguice n° 1
separei-me pela primeira vez do Nuninho quando fomos visitar amigos que vivem do outro lado da cidade, o Christian mandou-me ir de bicicleta para apanhar ar fresco um bocadinho on-my-own e os dois - pai e filho - foram de carro. Pelo caminho ía a pensar no que me aconteceu desde que ele nasceu; parece que desde aí nunca mais tive tempo para pensar. E depois eles passaram por mim no carro, dissémos adeus, e eu a vê-los desaparecer na curva e a pensar: "nao lhes pode acontecer nada".
31.5.12
The Baboon Show
Muito sexy, muito punk, e eu num concerto sentada em cima de uma mesa a agitar os braços e a cabeça e a pensar "ó filho, nao tenhas medo, que isto é bom!". Mesmo à frente do palco, um par com ar hard-core, roupa preta rasgada, abanavam as cabeças meias rapadas de maos dadas.
29.5.12
26.5.12
Hahn e Hauschka
Lindo. Uma crianca prodígio do violino e um pianista experimental. Gravaram um album na Islândia. E eu, sem nunca ter ido à Islândia, acho que isso nao é um pormenor. A vantagem de ter televisao é descobrir estas coisas que andam no limbo.
"à direita!... vai ao centro!"
O Chris achou que era uma paródia, por estarem todos com caras tao sérias a seguir as ordens de quem manda. Para ter prazer a dancar nao é preciso rir. Além disso, para que a roda funcione é preciso que todos saibam. Nas festas de Ponte de Lima eles diziam-nos: "Nao aguenta sai pró lado!" Que pena nao termos visto a Chamarrita do Pico.
21.5.12
17.5.12
Cómoda
A cómoda que herdámos era de refugiados da guerra que viveram em casa da família do Chris. Vinham de Munique e foram distribuidos pelas aldeias. A seguir à guerra perderam-lhes o rasto e aos descendentes que nunca vieram buscar a cómoda. Eles chamam-lhe mesa de lavagens porque tem um tampo de mármore e um espelho. Em cima do tampo de mármore usava-se um alguidar e um grande jarro de loica para as laviscagens matinais. Areei-lhe os puxadores e passei produto de madeira, encerei as gavetas e já correm um bocado melhor. Às vezes penso se nao teria pertencido a judeus.
Dia da espiga
Há anos, ía com o pai à baixa e apanhávamos a espiga. Nesta altura o calor ainda nao era muito e o pai explicava-me a espiga enquanto subíamos para casa. Nessa altura o pai dizia-me que Monchite era o melhor sítio do mundo e aquilo parecia-me um bocado exagerado porque Monchite era um sítio normal.
Este ano, o Steffen está de braco ao peito e por isso escolhemos um programinha bom para ele e para uma grávida no nono mês (!!!) e vamos ao ocupar Frankfurt.
Chris: "vês na internet qual é o programa?"
Eu: "ah, ontem houve uma rave, hoje nao deve acontecer nada antes da tarde"
Monchite era o melhor sítio do mundo, e o melhor de tudo é que o pai sabia disso. E mo disse!
Este ano, o Steffen está de braco ao peito e por isso escolhemos um programinha bom para ele e para uma grávida no nono mês (!!!) e vamos ao ocupar Frankfurt.
Chris: "vês na internet qual é o programa?"
Eu: "ah, ontem houve uma rave, hoje nao deve acontecer nada antes da tarde"
Monchite era o melhor sítio do mundo, e o melhor de tudo é que o pai sabia disso. E mo disse!
4.5.12
34 semanas
Redondos ainda mais redondos. Fotografias de há uns meses em que achava que estava redonda - ingénua. Nao tinha o cabelo tao bom desde que tomei o ruacutan, sardas, sinais, os pêlos das pernas muito fracos. Pesada, nos pés e nas pernas. Que saudades de dormir de barriga para baixo. À noite viro-me para um lado e para o outro, braço de baixo dormente. De manhä acordo como uma baleia que deu à praia - esta expressao nao é minha. Admiramo-nos com a barriga que mexe sozinha, nao devíamos ter visto aquele filme do alien.
9.4.12
Mangas alemas
No supermercado turco compra-se bom peixe e boa carne, e todo o tipo de feijao, grao, lentilhas, guloseimas em embalagens de cores muito garridas e que nao se percebe o que é, iogurte e arroz aos 5 quilos. E o senhor Avasin nao se deixa intimidar, na dúvida declara fruta e legumes como de origem alema. Meloes, melancias, mangas e todo o tipo de frutas do calor. As vezes que nao compro por virem do outro lado do mundo. Mas agora que sei, vou passar a ir ao senhor Avasin comprar mangas alemas.
23.3.12
Restos do casamento
Desencaixoto e encontro coisas tao bonitas. E mensagens ainda melhores. Sim, vamos continuar a ser muito felizes!
20.3.12
Planos para a licença
Vou de licença 6 semanas antes do dia previsto para o parto.
Plano 1: Pastéis de massa tenra - nunca fiz, preciso da receita.
Plano 1: Pastéis de massa tenra - nunca fiz, preciso da receita.
19.3.12
O consumismo como acto patriótico
O meu sogro diz que com a nossa mania das coisas em segunda-mao damos cabo da economia.
Roupas pequeninas
Já há uma cómoda lavada, oleada, arejada, forrada com papel aos quadradinhos. Nessa cómoda só entram coisas pequeninas que foram passadas em muitas águas. Algumas delas até foram passadas a ferro. Rimo-nos com algumas roupas. Comentamos que uma máquina cheia de coisas pequeninas demora muito mais tempo a estender. Tem mantinhas que já há 50 anos aqueceram as tias. E cueiros, que a avó daqui nao conhecia. E do pai tem babygrows em cores fortes, anos 70 alemaes. Continuamos a entrançar as palhinhas, enquanto ele dá muitas cambalhotas na barriga de contente.
9.3.12
Palhas para o ninho
Ontem fomos ao Ikea e trouxémos palhas para o ninho.
Hoje chegam as palhas que mandámos vir de Portugal, palhas com qualidade do sul.
Hoje chegam as palhas que mandámos vir de Portugal, palhas com qualidade do sul.
15.2.12
Chegádos.
Crise ou nao, a pujanca da oferta de alimentícios no hipermercado impressiona-me mais uma vez. O que faz o feira nova aos cantos do pao do qual vende só os meios? O assador de castanhas do vizinho que tem uma garagem por baixo do prédio já nao é empurrado por uma motoreta, agora é puxado às três pancadas, assadores em equilíbrio na curva, como atrelado de uma carrinha. Tive a sensacao que já nao é o velho assador, mas que talvez o filho lhe tenha herdado a banca mas nao a delicadeza. Ir à depilacao é luxo. E transportar livros já lidos, só os favoritos, para a Alemanha só pelo prazer de os ter por perto é o cúmulo do luxo. Da janela já nao se vêem terrenos baldios que nao estejam transformados em hortas. E estamos os dois em choque de sol e de citrínos.
9.2.12
estou feita
diz que com a azia que tenho, vem cheio de cabelo.
vou reduzir o café, pode ser que ajude.
vou reduzir o café, pode ser que ajude.
7.2.12
Nao sei se desculpo
Uma delícia as mensagens que troco com a minha gestora de conta da CGD:
Eu: segunda-feira, 6 de Fevereiro de 2012 19:00
Ola Sr.a D.a Xxxx,
peco que me informe sobre (...)
Obrigada e cumprimentos,
Ela: terça-feira, 07 de Fevereiro de 2012 11:24h
Bom dia, Dra.
Espero que esteja tudo bem consigo.
(...)
Caso necessite de algum esclarecimento adicional, não hesite em contactar-me.
Obrigada
Com so melhores cumprimentos
Eu: terça-feira, 7 de Fevereiro de 2012 11:32
Cara Sr D Xxxx,
obrigada.
(...)
Cumprimentos,
Ela: terça-feira, 7 de Fevereiro de 2012 13:28
Boa tarde, Sra. Eng.
Antes demais desculpe, porque há pouco troquei-lhe o título honorifico.
(...)
Com os melhores cumprimentos,
Ora, nao sei se desculpo o facto de a minha gestora de conta nao estar informada sobre os meus títulos honoríficos, como ela tao poeticamente lhes chama. Portugal no seu melhor. Depois de uma vez ter telefonado para a seguranca social em Tomar e me terem dito "ahhhh mas está tao longe e eu oico-a tao bem!", esta está em segundo lugar.
Eu: segunda-feira, 6 de Fevereiro de 2012 19:00
Ola Sr.a D.a Xxxx,
peco que me informe sobre (...)
Obrigada e cumprimentos,
Ela: terça-feira, 07 de Fevereiro de 2012 11:24h
Bom dia, Dra.
Espero que esteja tudo bem consigo.
(...)
Caso necessite de algum esclarecimento adicional, não hesite em contactar-me.
Obrigada
Com so melhores cumprimentos
Eu: terça-feira, 7 de Fevereiro de 2012 11:32
Cara Sr D Xxxx,
obrigada.
(...)
Cumprimentos,
Ela: terça-feira, 7 de Fevereiro de 2012 13:28
Boa tarde, Sra. Eng.
Antes demais desculpe, porque há pouco troquei-lhe o título honorifico.
(...)
Com os melhores cumprimentos,
Ora, nao sei se desculpo o facto de a minha gestora de conta nao estar informada sobre os meus títulos honoríficos, como ela tao poeticamente lhes chama. Portugal no seu melhor. Depois de uma vez ter telefonado para a seguranca social em Tomar e me terem dito "ahhhh mas está tao longe e eu oico-a tao bem!", esta está em segundo lugar.
4.2.12
Casa
Para trás ficam as riscas como em Sao Martinho. Mas a casa nova tem sol sol sol. Mal posso esperar para comecar a fazer o ninho. Hoje vieram os amigos que sao como família. Carregaram caixotes, móveis, máquinas para baixo. Tudo em carrinhas que eles trouxeram para nos ajudar. E na casa nova tudo para cima, está tudo amontoado num dos quartos que já pudémos ocupar apesar de só termos a casa a partir de Marco. Andámos a ver a casa mais uma vez, a medir, a planear móveis e pinturas. Depois voltámos à casa velha vazia e almocamos todos duas pizzas gigantes, cerveja e coca-cola sentados no chao. E aqui ficamos mais uma semana e meia. Só com o essencial, o que mais uma vez mostra que o essencial é muito pouco.
30.1.12
Sem-abrigo
http://fortschrittweise.wordpress.com/
„Ich kann freilich nicht sagen, ob es besser werden wird, wenn es anders wird; aber so viel kann ich sagen, es muss anders werden, wenn es gut werden soll.“
Georg Christoph Lichtenberg
Traducao livre: "Nao sei ainda se a mudanca será para melhor, mas uma coisa sei: para melhorar, tem que ser diferente."
Eva, 28 anos, relacoes públicas. Demitiu-se, rescindiu o contrato da casa, ensacou os poucos pertences em sacos do lixo que despejou em casa dos pais na Polónia, e partiu com uma mochila às costas. Desempregada e sem-abrigo, como ela diz. Nao é uma história original, mas é-me próxima. E fico muito contente por ela.
Vivam a vida como querem e deixem-se de tretas, a liberdade para isso é de quem pega nela.
„Ich kann freilich nicht sagen, ob es besser werden wird, wenn es anders wird; aber so viel kann ich sagen, es muss anders werden, wenn es gut werden soll.“
Georg Christoph Lichtenberg
Traducao livre: "Nao sei ainda se a mudanca será para melhor, mas uma coisa sei: para melhorar, tem que ser diferente."
Eva, 28 anos, relacoes públicas. Demitiu-se, rescindiu o contrato da casa, ensacou os poucos pertences em sacos do lixo que despejou em casa dos pais na Polónia, e partiu com uma mochila às costas. Desempregada e sem-abrigo, como ela diz. Nao é uma história original, mas é-me próxima. E fico muito contente por ela.
Vivam a vida como querem e deixem-se de tretas, a liberdade para isso é de quem pega nela.
13.1.12
Que bom é ir ver o mar!
Saímos às 4 da manha, tomámos o pequeno almoco na Bélgica, em Bruxelas fomos ao museu do Jacques Brel, em Lille dormimos a primeira noite, em Calais uma ventania, em Boulogne-sur-Mer as marés enormes e cheiro a porto, na baía de-la-Somme vimos focas (!!), em Tréport comemos peixe e dormimos com vista para o mar e em Reims passámos o ano na rua a observar adolescentes de província.
Benditas hormonas
Ando cansada, sonolenta, pouco resistente, esfomeada e distraída, mas nao há nada que me chateie nesta vida.
Armário
A crianca já tem um armário em madeira que dá até sair do ninho. Recolhemos da rua, em frente à universidade, e tem um autocolante a dizer "Institut für Angewandte Physik"*. Ele diz que precisa de verificar se os níveis de radioactividade estao conforme para ficar descansado. Eu já ando a pensar se o pinto ou nao.
*Instituto de Física Aplicada
*Instituto de Física Aplicada
Aulas de português
Disparates que se aprendem na aula de português em Darmstadt:
- em Portugal tratam-se as pessoas por Dona e primeiro nome quando se tem alguma intimidade mas se continua a usar o tratamento formal,
- em Portugal nao existem mais palavras para descrever actividades que se fazem na cozinha além de cozinhar (estou a lembrar-me de cozer, fritar, assar, guisar, etc),
- em Portugal nao se fazem bolos, só se compram feitos (esta é a mais engracada de todas).
Apesar disto tudo, noto progressos! O que demonstra mais uma vez que nao há nada como duvidar da competência de uma professora para aprender o que quer que seja. Para ele, tudo o que é dito na aula precisa primeiro da minha aprovacao para depois ser aprendido. O resultado é discutirmos as aulas de português em casa ao mesmo tempo que falamos dos usos e costumes. A pronúncia é um doce.
- em Portugal tratam-se as pessoas por Dona e primeiro nome quando se tem alguma intimidade mas se continua a usar o tratamento formal,
- em Portugal nao existem mais palavras para descrever actividades que se fazem na cozinha além de cozinhar (estou a lembrar-me de cozer, fritar, assar, guisar, etc),
- em Portugal nao se fazem bolos, só se compram feitos (esta é a mais engracada de todas).
Apesar disto tudo, noto progressos! O que demonstra mais uma vez que nao há nada como duvidar da competência de uma professora para aprender o que quer que seja. Para ele, tudo o que é dito na aula precisa primeiro da minha aprovacao para depois ser aprendido. O resultado é discutirmos as aulas de português em casa ao mesmo tempo que falamos dos usos e costumes. A pronúncia é um doce.
2.1.12
20.12.11
Quatro assoalhadas II
Diz que a máquina da loica cabe sim senhor, diz que se resolve tirando o lava-loica antigo para a cave, e se a senhoria tiver muita estima nele, volta-se a pendurar depois. Diz que os pombos também se resolvem, mas disso eu nao tinha dúvidas, é só uma questao de persistência. E a senhoria parece que gostou de saber dos nossos empregos e dos nossos títulos académicos (os alemaes sao loucos por eles, até poem nas campaínhas das portas). Escrevemos um mail muito polido, muito pretensioso, a gabar-nos dos nossos trabalhos, com os títulos no fim, e tudo, e tudo. Um bocadinho prostituicao, sim, mas que é que me rala, dou-lhe a cantiga que ela quiser ouvir. É saber-viver.
Neve
A árvore enorme em frente à nossa janela, mais alta que as nossas águas furtadas, estava toda branca quando acordámos. Lindo. Vamos ter saudades da árvore.
18.12.11
Quatro assoalhadas
O que poderia ser a nossa casa nova sao 4 assoalhadas (já nao devia usar esta palavra há mais de 10 anos), chao em tábuas largas de madeira, tectos altos, janelas grandes e portas antigas. A escada do prédio é a mais bonita que já vi em Darmstadt, quase tao bonita como a da Rodrigo da Fonseca (só quase). Dois pormenores com interesse turístico, a retrete alemä e um duche franquefurtense. A primeira é uma retrete desenhada de maneira que tem uma plataforma quase horizontal onde cai o cócó antes de ser empurrado para baixo pela descarga do autoclismo. Nao sou fä, apesar da vantagem de facilitar uma observacao do dito, em jeito de controlo de qualidade e despiste de distúrbios digestivo-intestinais, e de - mais interessante - evitar o odioso respingo.O duche franquefurtense nao tem em si nada de tao especial como esta retrete, aparte o detalhe de se situar na cozinha. É normalmente num canto recatado - valha-nos isso - e pode ter ou nao porta (este nao tinha). Pior e mais sério que estes dois detalhes curiosos é nao haver na cozinha espaco para a nossa máquina da loica. Ah isso, venham-me com os chaos em madeira e os tectos altos que quiserem, até me podem mostrar um lava-loicas antigo que seria uma pena deitar fora que eu nao me compadeco. Esta vai ser a nossa condicao, ou entramos com a máquina-da-loica, ou nao entramos de todo. E até estaria disposta a esquecer ou a adiar outros dois problemas: os pombos que vivem por cima da entrada da porta do prédio, nada de mais nojento - e se um dia me cagam em cima? - e o vizinho que vive no rés-do-chao e diz que o páteo é só dele, embora a actual inquilina duvide que esteja assim estipulado. Um páteo tao simpático com uma grande mesa, já estou a ver os grelhados que se podem fazer ali. E os pombos nem pensar, nao descansaria enquanto nao os espantasse dali a bem ou a mal.
15.12.11
Redondos
Estou a ler "O filho de mil homens" de Valter Hugo Mae e, eu que que normalmente gosto da exuberância dos detalhes e de descricoes exaustivas de sentimentos e momentos, estou presa na falta de detalhes excessivos, na reducao ao essencial, na pureza. Lindo!
Tenho cada vez mais redondos. E gosto deles. A fertilidade é uma dádiva muito doce e gulosa.
Tenho cada vez mais redondos. E gosto deles. A fertilidade é uma dádiva muito doce e gulosa.
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